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sexta-feira, 23 de novembro de 2018

ESTUDANDO A PALAVRA DO SENHOR


LIÇÃO  6 - SINCERIDADE  E  ARREPENDIMENTO  DIANTE  DE  DEUS

Subsídio para a Escola Bíblica Dominical da Lição 6 do trimestre sobre "As Parábolas de Jesus"



Sinceridade e arrependimento diante de Deus




Nos versículos 1 a 8 do décimo oitavo capítulo de Lucas, Jesus falou a parábola da viúva persistente com o objetivo de instigar a fé e fidelidade perseverantes de seus discípulos. Agora, dos versículos 9 a 14, Jesus continua falando de oração, mas não mais do dever de perseverar e sim do dever de portar-nos humildemente diante de Deus na oração.
Antes de prosseguirmos, gostaria de te apresentar um conteúdo que pode lhe ajudar a melhorar suas aulas na Escola Bíblica Dominical. O curso produzido pela Universidade da Bíblia chama-se Formação de Professores para Escola Bíblica Dominical e tem matérias sobre a psicologia da educação cristã, didática, métodos de ensino entre outros. 
Se a primeira parábola tratava da perseverança na fé (vv. 1, 8), esta parábola agora fala da verdadeira postura que se espera de um homem de fé: reconhecimento de que tudo o que temos ou somos é por misericórdia divina, não por nossos próprios méritos! Assim, embora utilize-se de uma parábola que fala de oração, Jesus pretende fazer-nos refletir sobre nossa postura diante dos homens e para com Deus em todos os aspectos de nossa vida!

I. Interpretação da parábola do fariseu e do publicano

  • O propósito da parábola
O evangelista Lucas nos diz o motivo de Jesus ter contado esta parábola:
“A alguns que confiavam em sua própria justiça e desprezavam os outros, Jesus contou esta parábola” (v. 9, NVI)
Lembremo-nos que Jesus costumava andar cercado de multidões, e nem todos ali eram verdadeiramente convertidos. Além disso, era comum que perto de Jesus estivessem sempre falsos religiosos, como alguns fariseus, escribas e intérpretes da lei (embora entre eles também existissem crentes verdadeiros). Ao público específico de religiosos arrogantes é que Jesus dirige esta parábola, com a clara intenção de confrontá-los e, ao mesmo tempo, ensinar-lhes sobre a verdadeira postura religiosa que agrada a Deus.
  • O contraste entre “o melhor” e “o pior”
O contraste estabelecido por Jesus entre os dois personagens é bem proposital. A intenção é contrastar o pior com o melhor dos homens, a fim de revelar que aos olhos de Deus o pior pode ser o melhor, enquanto que o melhor pode ser o pior! “O Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração” (1Sm 16.7).
Jesus pega a figura do fariseu, estimado pelos judeus como um exemplo de pureza, obediência à lei, fidelidade à nação e moralidade, e a figura do publicano, odiado pelos judeus e visto como um mau exemplo, um impuro, um traidor e um ladrão (publicanos eram judeus que trabalhavam para os dominadores estrangeiros, os romanos, cobrando impostos de seus conterrâneos sobre propriedades em território judeu).
Enquanto que ser fariseu representava ter prestígio religioso e social (Fp 3.5), ser publicano representava péssima reputação (o próprio Jesus sugere isso quando diz que se deve considerar como “publicano” o irmão que não aceitar a repreensão da igreja. Conf. Mt 18.15-17). Publicanos foram citados ao lado das prostitutas, como estando no mesmo nível moral (Mt 21.31,32), e a palavra “publicano” virou sinônima de “pecador” (Conf. Lc 19.2.7).
Assim sendo, o especialista em Novo Testamento, Dr. Craig Keener, ressalta que para entender esta parábola de Jesus, “um cristão tradicional precisaria imaginar, no lugar dos personagens da história, o diácono ou professor da escola dominical mais ativo da igreja de um lado e, do outro, um traficante de drogas, ativista gay ou político corrupto” [1]. Se esta comparação nos parece ofensiva, especialmente nós que de fato somos professores da escola dominical, então começamos a sentir um pouco do impacto que esta parábola deve ter causado nos ouvidos daqueles que se julgavam melhores que “os demais homens” (v. 11).
Aos olhos de Deus, agrada mais um desprezível pecador que reconhece sua culpa e suplica por perdão do que um respeitado religioso que julga-se melhor que os demais homens e mui digno de louvores!

II. A hipocrisia do fariseu

Marshall nos diz que “o fariseu era um homem piedoso, que vivia uma vida honesta e justa[moralmente falando]. Ele fazia até mais do que a lei [de Moisés] exigia. Jejuava duas vezes por semana (…), embora a lei exigisse ao povo jejuar apenas uma vez por ano. Ele dizimava sobre todos os seus rendimentos, e não apenas sobre as porções exigidas” [2]. Ao mero julgamento humano, era um perfeito religioso, um exemplo, um padrão de excelência! Todavia, Deus que “sonda os rins e o coração” (Ap 2.23) sabia o quanto o coração daquele fariseu estava cheio de rapina! (Lc 11.39)
  • O grupo dos fariseus
Os fariseus eram o mais destacado grupo religioso nos tempos de Jesus. Superavam em número e em influência política e religiosa aos saduceus (classe geralmente composta de aristocratas, membros de famílias ricas de Israel) e aos essênios (grupo religioso que vivia nos desertos para evitar as “contaminações” dos grandes centros urbanos, e, portanto, menos envolvidos com a sociedade). Foram o grupo mais constante nas oposições a Cristo e aos seus apóstolos, sendo não raro confrontados duramente pelo Senhor, como nas muitas repreensões em Mateus 23.
Embora tenha surgido com a pretensão de serem um grupo separado das corrupções morais da sociedade (esse, aliás, é o significado da palavra fariseu – em hebraico, parash –, isto é, separado), e também tivessem muitos ensinos que de fato refletiam a ortodoxia da lei e dos profetas (algo que Jesus mesmo reconheceu – Mt 23.3), os fariseus acabaram na prática se desviando da direção correta quando passaram a valorizar mais preceitos e tradições humanas do que a própria Palavra de Deus, e reivindicando para si maior pureza que os demais homens.
O Novo Testamento apresenta os fariseus como tradicionalistas, moralistas, legalistas, cerimonialistas, avarentos (Lc 16.14) e, mais especialmente, hipócritas (confira na íntegra capítulo 23 de Mateus).
  • Tão hipócritas quanto arrogantes
Entretanto, esta parábola de Lucas 18 não tenciona apontar a hipocrisia propriamente dos fariseus ou das pessoas que com aquele fariseu da parábola se identificam; antes, aqui destaca-se outra característica negativa do falso religioso: a arrogância. Isso porque a parábola não pretende negar que o fariseu fazia de fato o que ele diz que fazia, mas sim demonstrar que tal postura de autoadmiração na oração constituía uma arrogante confiança na própria justiça; e que o menosprezo aos outros pecadores na oração configurava um grande erro, já que o prazer de Deus está naquele “que se humilha” (v. 14) e não naquele que humilha o outro!
Se a parábola da viúva persistente no início do capítulo falava de um juiz que “não temia a Deus nem respeitava aos homens” (v. 2), esta parábola do fariseu e do publicano não está muito distante daquela, já que o fariseu é também um homem que não demonstra genuíno temor a Deus nem respeito ou sentimento de condescendência pelos outros.
  • Atitudes erradas na oração do fariseu
Conforme o texto bíblico, dois erros estavam sendo cometidos pelo público a que esta parábola se destina:
1. Confiança na própria justiça. Esse foi o erro dos judeus que rejeitaram a Cristo, visto que confiavam em suas boas obras para serem justificados diante de Deus. Como disse o apóstolo Paulo, “Israel, que buscava a lei da justiça, não chegou à lei da justiça. Por quê? Porque não foi pela fé, mas como que pelas obras da lei; pois tropeçaram na pedra de tropeço”(Rm 9.31,32).
Os religiosos que rejeitaram a Cristo e a mensagem do Evangelho pensavam que a justificação diante de Deus se dava na base da “meritocracia moral e religiosa”, isto é, mediante o mérito que cada um poderia apresentar diante de Deus em razão da boa conduta e do volume de suas boas obras. Ledo engano! “Quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente” (Rm 11.35,36). Paulo, um fariseu convertido a Jesus Cristo, sabia que “pela graça de Deus sou o que sou” (1Co 15.10). E “se é por graça, já não é pelas obras” (Rm 11.6), “para que nenhuma carne se glorie diante dele” (1Co 1.29). Aos que confiam em si mesmos e se vangloriam de suas boas obras, que pese a palavra do Senhor através do profeta Jeremias: “Maldito o homem que confia no homem” (Jr 17.5).
2. Desprezo pelos outros. Essa é uma consequência óbvia da autoconfiança e da falsa concepção de justiça própria: o homem que a si mesmo se exalta tende a humilhar e desprezar os outros. Está sempre se comparando com os demais, “tendo de si mesmo um conceito mais elevado do que deve ter” (Rm 12.3). Ele nunca se compara com Deus para perceber o quanto está aquém dEle, antes vive se comparando com outros homens falhos para autogratificar-se quando se vê o quanto está além deles.
O arrogante é geralmente preconceituoso. Como o fariseu da parábola que olhava para o publicano como uma gentalha, o religioso arrogante costuma sempre ver sua santidade como superior a dos demais crentes, sua igreja como melhor que a dos demais irmãos, sua doutrina mais ortodoxa, seu conhecimento mais robusto e sua fé mais genuína. A Bíblia orienta “Louvem-te os lábios estranhos e não a tua própria boca” (Pv 27.2), mas o religioso arrogante não cessa de se bajular; a Bíblia exorta “Não sejam sábios aos seus próprios olhos” (Rm 12.16b), mas o religioso arrogante julga-se sempre acima da média e o mais qualificado para estar na dianteira.
Ora, se Deus que é mui grande a ninguém despreza (Jó 36.5), por que nós deveríamos desprezar o nosso semelhante, especialmente quando é um pecador buscando a Deus como nós?
  • Tornando Deus cúmplice no pecado
Não deve surpreender-nos que no início da oração o fariseu tenha dito “Graças te dou, ó Deus…”, pois ao dar graças a Deus pela sua postura arrogante, o fariseu está inconscientemente cometendo mais um pecado: tornando Deus cúmplice de sua vida soberba, como se o sobejar de suas boas obras, que superavam as ordenanças da lei mosaica, e o sentimento de autossatisfação em seu coração fossem procedentes de Deus!
Entretanto, visto que Deus não pode ser responsabilizado jamais pela vaidade daquele moralista, Jesus nos diz que o fariseu “orava de si para si mesmo” (v. 11, ARA). Noutras palavras, sua oração era tão ególatra que, embora invocando a Deus, era dirigida a si mesmo, não a Deus o Pai. Sabe quando dizemos que uma oração não passou do teto? Pois bem, foi aquela oração do fariseu! Deus dá graça ao humilde, mas resiste ao soberbo (Tg 4.6).
  • Cuidado com a propaganda na oração!
O exegeta A.T. Robertson diz que a oração do fariseu foi, na verdade, “um recital complacente das suas próprias virtudes para sua própria satisfação, e não comunhão com Deus, embora ele se dirija a Deus” [3]. A oração é um meio pelo qual reverenciamos ao Senhor, o adoramos na beleza de sua santidade e o exaltamos com sinceridade de coração. Usar a oração para propagandear orgulhosamente a própria justiça diante de Deus é perverter os propósitos de tão sublime instrumento de comunicação com Deus e adoração!
O pregador batista Charles Spurgeon dizia que até em nossa santidade há pecado; eu direi que até mesmo em nossa oração há transgressão! Na verdade, mesmo genuínos homens ou mulheres de Deus podem cair no erro daquele fariseu, o erro de fazer da oração instrumento de propaganda diante de Deus. O Senhor conhece nossas obras, e sabe julgar entre boas ações feitas com boas intenções e boas ações feitas com más intenções!
Agora, não vamos confundir uma oração soberba, como a do fariseu desta parábola, com a petição humilde, sincera e quebrantada, como aquela feita no Antigo Testamento pelo rei Ezequias, que, quando avisado de morte, voltou-se para a parede e suplicou com lágrimas a Deus que lhe permitisse viver um pouco mais. Ezequias argumentou em poucas palavras: “Ah! Senhor, peço-te, lembra-te agora, de que andei diante de ti em verdade, e com coração perfeito, e fiz o que era reto aos teus olhos” (Is 38.3). Note que Ezequias também fala a Deus sobre suas boas obras e a retidão de sua conduta.
Fonte: Gospel Prime 

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