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domingo, 10 de fevereiro de 2019

SERIE: ORANDO O PAI NOSSO COM PODER. ESTUDO Nº 7: PERDOAI AS NOSSAS DIVIDAS




Por Markus DaSilva, Th.D.
Podemos definir o pecado de várias formas, mas nenhuma definição humana fará jus ao quanto ele é ofensivo para Deus. Devemos lembrar que tudo aquilo de mal que o homem faz, em última análise não ofende a criatura que pratica e nem mesmo a que recebe o mal, mas sim aquele que as criou à sua imagem: Deus. Cada maldade em ato ou pensamento que cometemos contra um outro ser humano, seja ele um parente, um amigo, um inimigo, um estranho ou a nós mesmos, estamos maculando a perfeita imagem Daquele que compartilhou conosco parte da sua essência: “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gn 1:26). Isso foi o que o rei Davi quis dizer quando orou logo após ter sido desmascarado pelo profeta Natã quanto ao seu pecado de adultério e assassinato: “Contra ti, contra ti somente, pequei, e fiz o que é mau diante dos teus olhos; de sorte que és justificado em falares, e inculpável em julgares” (Sl 51:4). Davi sabia que o seu pecado causou grande quantidade de sofrimento a várias pessoas e que o seu mal era irreparável. Sabia que além de ter manchado a honra de uma mulher casada, ele causou imensa dor à família do gentio Urias (heteu/cananeu) o qual ele ordenou que fosse colocado na frente de uma batalha especificamente para ser morto. Mas, mesmo estando a par de tudo o que fez para essa família, ainda assim, entendia que quem realmente foi ofendido pelos seus atos foi o Senhor: “Contra ti, contra ti somente, pequei” (Sl 51:4 ver também Sl 51:4; 1Co 8:12).
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"Não existe como nós mesmos pagarmos a dívida que temos com o Senhor e voltarmos ao perfeito relacionamento que antes tínhamos com Ele"
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Deus, por um tempo, está permitindo que o pecado exista no universo, mas muito em breve ele será eliminado para que assim a sua criação volte a ser compatível com a sua presença. O mal não pode coexistir com Deus que é o próprio bem, assim como as trevas não podem coexistir com a luz (Hc 1:13; Sl 5:5). Quando estamos em um lugar escuro e alguém chega carregando algum tipo de luz, a escuridão naturalmente desaparece. Quanto mais o brilho da luz que entra no ambiente, menos densa se tornam as trevas. Em um local onde a luz é perfeita as trevas simplesmente não existem: “a luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela” (Jo 1:5). Este foi o motivo que Satanás e os seus anjos caídos não puderam continuar no céu, porque lá é a morada de Deus, a mais pura luz: “Então houve guerra no céu: Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão. E o dragão e os seus anjos batalhavam, mas não prevaleceram, nem mais o seu lugar se achou no céu” (Ap 12:7-8). Da mesma forma, nós, na nossa atual condição não podemos estar na presença de Deus Pai e viver: “Disse Manoá (Pai de Sansão) à sua mulher: Certamente morreremos, porque vimos a Deus” (Jz 13:22).
Na versão do Pai Nosso relatada por Lucas (Lc 11:4) encontramos a frase [Gr. καὶ ἄφες ἡμῖν τὰς ἁμαρτίας ἡμῶν, (Trad. Lit. e perdoa nós os pecados de nós)], note que Lucas menciona que Jesus usou a palavra “pecado” [Gr. ἁμαρτίας (hamartias)]. mas na versão de Mateus (Mt 6:12) Jesus utilizou uma frase praticamente idêntica, com exceção da palavra “pecado”: [Gr. καὶ ἄφες ἡμῖν τὰ ὀφειλήματα ἡμῶν, (Trad. Lit. e perdoa nós as dívidas de nós)]. Esta mesma palavra para “dívida” [Gr. ὀφείλημα, (opheilēma)] é usada por Paulo em Romanos: “Ora, ao que trabalha não se lhe conta o salário como um favor, mas sim como dívida” (Ro 4:4).
No contexto da oração do Pai Nosso, ambos os termos, pecado e dívida, possuem o mesmo significado. O pecado que carregamos é uma dívida com Deus, e como toda a dívida um dia ela terá que ser quitada (Mt 25:46). Esta comparação de pecado com uma dívida financeira ocorre porque se Deus não fosse misericordioso conosco, seríamos todos banidos para as trevas, distante da sua presença por causa das nossas ofensas: “E lançai o servo inútil nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes” (Mt 25:30). O Senhor, porém, nos permite viver por um tempo sem que recebamos a nossa devida punição, para que assim possamos decidir por nós mesmos como esta dívida será quitada. Neste sentido, todo o tempo que vivemos estamos carregando sobre as nossas costas a obrigação de um dia pagar esta dívida com Deus: “Assim, pois, cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus” (Ro 14:12).
A analogia da dívida que temos com Deus e a dívida que temos com um credor financeiro, no entanto, perde o seu valor aplicativo quando entendemos que enquanto toda a dívida financeira possui uma quantia que se o devedor conseguir pagar ele fica livre, não existe como nós mesmos pagarmos a dívida que temos com o Senhor e voltarmos ao perfeito relacionamento que tínhamos com Deus antes da entrada do pecado na terra. Isso significa que teremos que procurar uma outra maneira de quitar esta dívida com o nosso Criador ou o nosso destino final garantido será o exílio permanente da presença de Deus, que é a morte eterna (2Ts 1:9). Ou seja, o preço do pecado, ou o valor a ser pago, é a morte eterna: “A alma que pecar, essa morrerá” (Ez 18:20); “Porque o salário do pecado é a morte” (Ro 6:23). Este é o dilema do ser humano: se não paga a dívida ele morre e se pagar ele também morre.
Sabemos, porém, que Deus na sua bondade decidiu providenciar uma forma para que esta dívida com Ele fosse paga e assim alguns seres humanos continuassem vivendo. Ou seja, qualquer ser humano que aceitar esta forma alternativa de pagar a sua dívida com Deus poderá fazê-lo, se assim o desejar: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não morra, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16).
Esta forma de pagamento pelos nossos pecados que Deus nos providenciou é a essência do evangelho. Quando oramos o Pai Nosso e pedimos que Deus perdoe os nossos pecados estamos então reconhecendo que não temos como pagar esta gigantesca dívida que carregamos conosco e que Ele receba este pagamento de uma outra pessoa, o seu Filho unigênito: Jesus (Is 53:4; 1Pe 2:24). Recordemos, porém, que o custo da nossa dívida não foi diminuído para que assim Jesus tivesse pouco a pagar. Não, de forma alguma, pois a perfeição de Deus exige nada menos do que um perfeito pagamento. A dívida era alta, e não só alta como também multiplicada imensamente pois Jesus pagou pelos pecados de “todo aquele que nele crer”, e não apenas de um, dois ou três pecadores. Esta foi a grande agonia que Jesus enfrentou por amor àqueles a quem o Pai lhe enviou (Jo 6:39; Jo 17:12). Agonia esta claramente visível nas suas palavras dirigidas ao Pai, quando se encontrava a questão de horas em que a dívida, depois de cerca de 4000 anos desde Adão e Eva, seria finalmente quitada com a sua própria vida: “Pai, se queres afasta de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lc 22:42).
Recordemos também que, ainda que Jesus tenha sofrido imensa dor nas mãos dos soldados romanos por nossa causa, de longe, o seu maior sofrimento foi a morte eterna que precisou passar por todo aquele que nele creu: “…para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos” (Hb 2:9). A morte eterna, a mesma morte eterna que todo o pecador impenitente sofrerá, é a ausência de Deus: “os quais sofrerão, como castigo, a perdição eterna, banidos da face do senhor” (2Ts 1:9). E se esta ausência de Deus será um sofrimento horrível para os seres humanos, cuja grande maioria nunca sequer viu a Deus, imagine para aquele que por toda a eternidade esteve junto, ou melhor, era um com o Pai? (Jo 10:30). Este foi o significado das palavras do nosso amado Jesus na cruz do Calvário: “Cerca da hora nona, bradou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni; isto é, Deus meu, Deus meu, por que me abandonastes?” (Mt 27:46).
De uma forma direta ou indireta, todo o ser humano adulto e capaz que veio a esta terra, teve ou terá a oportunidade de se beneficiar deste perfeito sacrifício de Jesus e viver eternamente com o seu querido Salvador no céu. Digo direta ou indireta porque existem muitos casos de salvação que vai além da nossa compreensão e que devemos deixar nas mãos de Deus, incluindo aquelas almas que viveram antes da vinda do Messias e ainda aquelas que por um motivo ou por outro não conheceram o evangelho da cruz. O sangue inocente de Jesus levará muitos ao céu, ainda que parte deles não tem uma clara compreensão do plano de salvação: “pois isto é o meu sangue, o sangue do pacto, o qual é derramado por muitos para perdão dos pecados” (Mt 26:28).
Observemos que este crer, do verso: “todo aquele que Nele crer” não se trata apenas de um reconhecimento de que Jesus realmente existiu, nem tampouco de que ele realmente era quem ele afirmava ser: o Salvador enviado por Deus. Não, de forma alguma. Crer neste sentido até os demônios creem (Tg 2:19), mas isto não trará qualquer benefício para eles no juízo final. O crer que nos salva da morte eterna é o crer da obediência, pois é obedecendo que demonstramos que cremos: “Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte” (Jo 8:51). [Gr. ἐάν τις τὸν ἐμὸν λόγον τηρήσῃ, (Trad Lit. se alguém minha palavra guarda)]. O verbo guardar no grego [τηρέω (tēreō)] possui a ideia de vigiar, reter e preservar e é usado em vários lugares com o sentido de policiar ou manter sob guarda (Mt 27:36; Mt 27:54; At 12:5; At 16:23; At 24:23; At 25:4 ), ou seja o crer que faz com que não tenhamos que pagar por nós mesmos a dívida da morte eterna consiste do crer que faz com que as palavras de Jesus sejam guardadas no coração da pessoa, como algo muito precioso e que não deve de forma alguma escapar. Todo o viver dela passa a ser em obediência a tudo aquilo que saiu da boca de Jesus: “Este é o meu Filho amado, em quem me agrado. Ouçam-no! (Mt 17:5).
Não podemos falar de perdão de pecados sem falarmos em arrependimento (2Pe 3:9). Poderíamos escrever muito sobre o arrependimento, mas para este estudo deixe-me apenas esclarecer que o perdão está ligado a dois pontos importantes: o reconhecimento de culpa e a intenção de se corrigir. Se durante a oração do Pai Nosso não sentimos aversão aos nossos pecados e não temos um profundo desejo de nunca mais repetir as nossas ofensas, então o arrependimento ainda não ocorreu. Neste caso, acompanhado do pedido de perdão, devemos confessar a Deus que precisamos também que Ele nos capacite a rejeitarmos tudo aquilo que o ofende (2Co 7:10). Ou seja, que ele retire do nosso coração todo o ódio e desejo de vingança, toda a inveja, todo o desejo carnal e qualquer outro tipo de sentimento que sabemos que desagrada a Deus. Se realmente desejarmos nos livrar destes males por amor ao Senhor e o pedirmos, Ele nos dará o que pedimos porque este desejo não provém de nós mesmos, mas da influência do Espírito Santo que habita em nós: “o Espírito nos ajuda na fraqueza; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém” (Ro 8:26).
Queridos, em resumo, o que quero explicar com tudo o que foi dito acima é que o pedir perdão a Deus pelos nossos pecados não se trata de algo mágico ou místico, como muitos pensam. Não é simplesmente porque a pessoa fala estas palavras que os seus pecados são perdoados. Este tipo de entendimento não tem nenhuma conexão com o evangelho da cruz que restaura e salva. Para que as suas dívidas sejam realmente quitadas através da morte de Jesus o indivíduo precisa crer e o demonstrar através da obediência às suas palavras. O perdão é dado àqueles que amam a Jesus, amor refletido na obediência: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos a ele, e faremos nele morada” (Jo 14:23). Espero te ver no céu.
Para obter a versão mais recente deste estudo, com possíveis revisões, correções ou material adicional, favor acessá-lo na web: Ler Estudo na Web .

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