Por Markus DaSilva, Th.D.
(PARTE 1) SÉRIE: O MUNDO ESTÁ PASSANDO. ESTUDO Nº 1: OS
PRAZERES DO MUNDO
Os três maiores escritores do Novo Testamento: João, Pedro e Paulo, receberam a inspiração de Deus para nos alertar quanto a um dos pontos mais importantes da nossa vida atual, que é o fato de que o mundo, sim, este mundo que tanto valorizamos, está passando: “Ora, o mundo está passando, e com ele os seus desejosΩ” (1Jo 2:17. Ver também: 1Co 7:31; 1Pe 1:24; 1Pe 4:7). Este alerta é extremamente necessário simplesmente porque, apesar de ser tão óbvio, frequentemente esquecemos desta realidade e seguimos vivendo como se o mundo presente fosse fixo. Insistimos em amar a este mundo, desejando e usufruindo dos seus prazeres, como se não soubéssemos que a cada segundo estamos mais próximos de encerrarmos a nossa passagem por aqui. Isto foi o que Davi quis dizer com as palavras: “Eis que mediste os meus dias a palmos; o tempo da minha vida é como que nada diante de ti” (Sl 39:5).
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Ω[Desejo → Grego: ἐπιθυμία (epithumia) cobiça, desejo, muita vontade, fervorosamente, impulsos, luxúria, tara].
“O inimigo pode nos oferecer prazeres agradáveis aos nossos olhos o quanto quiser, mas não possui poder para nos forçar a aceitá-los.”
Em diferentes graus, todos nós somos atraídos pelo mundo presente. Afinal, como recentemente ouvi um pregador dizer: ele é o único que temos. Assim que nascemos e crescemos um pouco, começamos a desenvolver o gosto pelo mundo. Este gosto é em grande parte influenciado pelas pessoas que nos cercam. Observamos como os outros seres humanos ao nosso redor interagem com tudo o que existe no mundo, experimentamos fazer o mesmo e aprendemos rapidamente que certas coisas causam reações agradáveis ao corpo e à mente, e a partir daí procuraremos reviver essas reações sempre que podemos. Com o tempo, perdemos o interesse por algumas destas coisas e procuramos então por novas formas de obtermos satisfação na vida; as encontramos e nos beneficiamos delas até que estas também nos cansam e seguimos procurando por outras… este processo continuará até o dia em que, por um motivo ou por outro, seremos privados de procurar por novos prazeres, ou, simplesmente cansamos de todos eles. Isto foi exatamente o que ocorreu com o rei Salomão, depois de experimentar praticamente todos os prazeres disponíveis ao homem nos seus dias: “Pelo que passei a detestar a vida, porque a obra que se faz debaixo do sol me era um tédio; sim, tudo é vaidade e desejo inútil” (Ec 2:17).
Uma vez que este desejo de experimentar os prazeres que o mundo oferece cria raiz, nos tornamos dependentes vitalícios. De fato, praticamente todos os seres humanos são usuários regulares das atrações, antigas e recém-criadas, que são continuamente oferecidas à população. A propósito, o que não falta neste mundo são criadores e distribuidores de prazeres, afinal, eles exploram um mercado com um histórico comprovado de excelente retorno.
Até aqui, estou apenas explicando da maneira mais clara possível a síntese do que consiste o dia a dia da raça humana. É bom notar que esta contínua busca por prazeres sempre existiu e sempre existirá. A Bíblia relata eventos bem antigos que comprovam esta incessante busca por aquilo que nos satisfaz neste mundo, a começar por Eva, que foi a primeira vítima deste antigo marketing dos prazeres. Satanás, logo no início da nossa existência, observou o perfil dos nossos pais, concluiu corretamente que a melhor forma de fazer com que desobedecessem ao Criador seria explorando a sua curiosidade e desejo nato de experimentar novos prazeres: “Então, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejávelℵ para dar entendimento, tomou do seu fruto e comeu” (Gn 3:6). A experiência de Adão e Eva no Jardim do Éden é de imenso valor para entendermos um pouco mais sobre o nosso desejo por prazeres e de como este desejo se transformou de algo bom e inocente ao grande obstáculo para que a raça humana volte a ter o relacionamento perfeito que originalmente tinha com o Criador.
————ℵ [Desejável → Hebraico: חָמַד (Komad) desejável, atraído, cobiçado, prazer, precioso].
A raça humana foi criada para sentir prazer em tudo o que faz. Desde o momento que acordamos e saímos da cama, até a hora que voltamos para ela, o nosso dia é repleto de pequenos e grandes prazeres. Em todos os nossos afazeres, por mais insignificantes que alguns deles pareçam, Deus inseriu algum tipo de prazer. O nosso amado Criador colocou prazer até naquilo que fazemos por necessidade, como na reposição dos líquidos e energias fundamentais para vivermos. Ou seja, poderíamos muito bem consumir alimentos somente por ser necessário, sem qualquer gosto por eles, mas, Deus na sua bondade associou também esta tarefa com o prazer, para nos alegrar. Para nós que estamos acostumados, é inimaginável uma vida sem o prazer de beber um copo d’água fria ou de comer um prato favorito. Em suma, sem sombra de dúvidas, o nosso Deus nos criou para que cada minuto da nossa existência fosse excitante e repleto de todos os tipos de prazeres.
Uma vez que claramente podemos observar o nosso constante desejo e procura por prazeres a pergunta lógica é o porquê somos assim. Somos assim, queridos, porque Deus também tem prazeres (Sl 35:27; Sl 147:11; Sl 149:4), e simplesmente refletimos aquilo que Ele é: “Façamos o homem à nossa semelhança” (Gn 1:26). Um outro ponto lógico quando refletimos nessa verdade é a de que não é pelo fato de possuirmos desejos por prazeres, nem pelo fato de satisfazermos os nossos desejos, que estaremos pecando contra Deus, mas sim se estamos dispostos a sacrificar os nossos desejos pelos desejos do Senhor, quando eles já nos foram revelados. Adão e Eva falharam exatamente neste ponto. Ou seja, Eva, e posteriormente Adão, desejou um prazer e satisfez o seu desejo quando lhe era claro que o desejo de Deus era contrário ao seu: “Respondeu a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim podemos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele” (Gn 3:2-3).
Observemos de novo aquilo que Eva disse no começo da resposta à serpente: “Do fruto das árvores do jardim podemos comer”, ou seja, Deus nos dá uma grande quantidade de prazeres no nosso dia a dia para que sejamos felizes nesta vida. Certamente que sim, pois Ele se deleita em nos ver usufruindo dos prazeres que Ele próprio criou. Essa verdade se aplica tanto na vida presente como na vida futura. Aliás, se aplicará ainda mais no céu uma vez que lá não será mais necessário nenhum alerta de Deus para fruto proibido, porque no céu não haverá frutos proibidos e tampouco serpente circulando no jardim procurando a quem possa devorar (1Pe 5:8; Ap 12:10).
Irmãos, é preciso deixar um ponto bem claro: apesar de ser do agrado de Deus que experimentemos muitos dos prazeres que nos são disponíveis, representado pelas muitas árvores frutíferas no Jardim do Éden, é necessário que tenhamos completo controle sobre todos eles. Alguns dos prazeres não nos são permitidos, ainda que tenhamos acesso a eles, representado pela árvore da ciência do bem e do mal. O Senhor espera que venha de nós a decisão de ficar longe de tudo o que Ele nos proibiu, pois é quando privamos a nós mesmo daquilo que temos acesso que demonstramos ao Criador que temos condição de exercer responsavelmente o livre arbítrio que Ele nos deu. Foi dentro deste princípio que Deus colocou uma árvore que dava uma fruta desejável, porém proibida, no centro do jardim (Gn 2:9). Também foi dentro deste princípio, que Deus permitiu, e ainda permite, que Satanás, a antiga serpente, circule no nosso meio procurando a quem possa devorar. Foi isso o que o irmão Pedro quis dizer quando nos escreveu: “não estranheis a ardente provação que vem sobre vós para vos testar, como se coisa estranha vos acontecesse” (1Pe 4:12). Da mesma forma que ele fez com Eva, o inimigo pode nos oferecer prazeres agradáveis aos nossos olhos o quanto quiser, mas não possui poder para nos forçar a aceitá-los; a decisão é nossa. Assim foi no Éden, e assim é no nosso dia a dia.
Além dos prazeres que Deus nos proibiu, existem outros que embora em si mesmos não sejam pecaminosos, eles não nos beneficiarão espiritualmente e, se não os dominarmos, poderão até mesmo bloquear a nossa entrada no céu. Também sobre estes, o Senhor espera que exercitemos controle. Foi a esses tipos de prazeres que o nosso irmão Paulo se referiu quando nos escreveu: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas; mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas” (1Co 6:12).
Amados, estamos muito animados com esta nova série. Sigam orando por nós, pois esta é outra série difícil, mas de suma importância. Além de vocês, irmão e irmãs em Cristo, que já há anos leem os textos regularmente, o Senhor continua enviando milhares de almas preciosas até os nossos estudos e a responsabilidade que paira sobre nós é astronômica. Orem acima de tudo para que o Senhor nos mantenha servos humildes, à medida que o ministério cresce. Que estejamos cientes que depois de fazer tudo aquilo que Ele nos manda, ainda assim somos servos inúteis, pois não fizemos mais do que a nossa obrigação (Lc 17:10). Digo tudo isso porque não existe maior obstáculo para o crescimento da obra do que o orgulhoso coração humano (Prv 16:5). Que o Senhor, na sua misericórdia, nos livre deste mal. Espero te ver no céu.
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