Gentileza gera gentileza. O velho de barba branca que largou tudo e partiu sem destino certo. Para alguns, louco varrido, enquanto que para outros um autêntico maluco beleza. Responsável por dezenas de inscrições na capital fluminense (RJ) onde se lê frases como “gentileza gera gentileza”, José Daltrino, mais conhecido como o “Profeta Gentileza”, despiu-se de seus bens materiais e partiu levando a gentileza consigo.
Autor dos famosos murais que se tornaram patrimônio cultural do Rio de Janeiro, o camponês de Cafelândia/SP, “José Agradecido”, ou simplesmente “Gentileza”, aprendeu cedo a dar valor à natureza ao trabalhar com a terra e os animais. Criticou o valor atribuído aos bens materiais, pregou seu desapego e caminhou por diversas regiões do País levando sua mensagem – adotando o Rio de Janeiro como sua moradia.
Conta-se que desde a adolescência o Profeta Gentileza prognosticava coisas – que não faziam sentido algum aos pais. Aos 12 anos de idade dizia que cedo ou tarde, haveria de “ter uma família, ter filhos, construir bens, mas que, um dia, teria de deixar tudo” – o que lhe rendeu visitas a psiquiatras e curandeiros espirituais.
A história do Profeta gentileza teve início após uma tragédia: em 1961, o incêndio do Gran Circus Norte-Americano instalado na Praça do Expedicionário em Niterói, Rio de Janeiro, onde mais de 500 pessoas morreram. Sentindo bastante o acontecido, teve a “revelação” (vozes) de que finalmente chegara o dia de cumprir seu destino. Com família constituída, cinco filhos e com patrimônio construído (pequena empresa de frete, três terrenos e uma casa), o Profeta Gentileza despiu-se de tudo e deu início à sua vida como andarilho.
Com aproximadamente 60 anos, empunhando seu estandarte e com a palavra na ponta da língua, Gentileza se apresentava nos locais como representante de Deus e anunciador de um novo tempo. Nas ruas, era tido como louco por uns e maluco beleza por outros, ocasião em que respondia coisas como “sou maluco para te amar e louco para te salvar” ou “seja maluco, mas seja como eu, maluco beleza, da natureza, das coisas divinas”.
Segundo o próprio Gentileza, foi internado três vezes por suposta loucura. Em uma dessas internações, afirma que o psiquiatra teria dito à sua filha que ele não era louco. Contou também que, no pátio do manicômio, os demais pacientes ficavam à sua volta escutando sua mensagem. Outro médico teria dito ao Profeta: “Gentileza, você veio aqui para nós te curar ou para você nos curar?”.
Em 1993, diante de problemas de saúde, o Profeta já não podia se deslocar como antes e decide retornar à família que morava na cidade de Mirandópolis/SP. Em 29 de maio de 1996, Gentileza descansou em paz falecendo aos 79 anos.
O Profeta Gentileza pode ser tido como alguém que simplesmente deixou de lado todos os vícios entranhados na sociedade. Procurou viver livre e à disposição de quem lhe desse ouvidos, também emprestando os seus. Sobre essa figura querida nas ruas da capital fluminense, foram feitas músicas, teses acadêmicas, livros e documentários.
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