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sábado, 29 de junho de 2024

A PALAVRA DE DEUS

 

1 Pedro 5

Conselho aos pastores e jovens

1 Portanto, apelo para os presbíteros que há entre vocês e o faço na qualidade de presbítero como eles e testemunha dos sofrimentos de Cristo como alguém que participará da glória a ser revelada:

2 pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus cuidados. Olhem por ele, não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus quer. Não façam isso por ganância, mas com o desejo de servir.

3 Não ajam como dominadores dos que foram confiados a vocês, mas como exemplos para o rebanho.

4 Quando se manifestar o Supremo Pastor, vocês receberão a imperecível coroa da glória.

5 Da mesma forma, jovens, sujeitem-se aos mais velhos. Sejam todos humildes uns para com os outros, porque
"Deus se opõe aos orgulhosos,
mas concede graça
aos humildes".

6 Portanto, humilhem-se debaixo da poderosa mão de Deus, para que ele os exalte no tempo devido.

7 Lancem sobre ele toda a sua ansiedade, porque ele tem cuidado de vocês.

8 Estejam alertas e vigiem. O Diabo, o inimigo de vocês, anda ao redor como leão, rugindo e procurando a quem possa devorar.

9 Resistam-lhe, permanecendo firmes na fé, sabendo que os irmãos que vocês têm em todo o mundo estão passando pelos mesmos sofrimentos.

10 O Deus de toda a graça, que os chamou para a sua glória eterna em Cristo Jesus, depois de terem sofrido por pouco tempo, os restaurará, os confirmará, os fortalecerá e os porá sobre firmes alicerces.

11 A ele seja o poder para todo o sempre. Amém.

Saudações finais

12 Com a ajuda de Silvano, a quem considero irmão fiel, eu escrevi resumidamente, encorajando-os e testemunhando que esta é a verdadeira graça de Deus. Mantenham-se firmes na graça de Deus.

HISTÓRIA DOS APÓSTOLOS PEDRO E PAULO

 

São Pedro e São Paulo Apóstolos - principais líderes da Igreja Cristã

 29 de Junho
São Pedro e São Paulo Apóstolos - principais líderes da Igreja Cristã





















Hoje a Igreja do mundo inteiro celebra a santidade de vida de São Pedro e São Paulo apóstolos. Estes santos são considerados “os cabeças dos apóstolos” por terem sido os principais líderes da Igreja Cristã Primitiva, tanto por sua fé e pregação, como pelo ardor e zelo missionários.

Pedro, que tinha como primeiro nome Simão, era natural de Betsaida, irmão do Apóstolo André. Pescador, foi chamado pelo próprio Jesus e, deixando tudo, seguiu ao Mestre, estando presente nos momentos mais importantes da vida do Senhor, que lhe deu o nome de Pedro.

Em princípio, fraco na fé, chegou a negar Jesus durante o processo que culminaria em Sua morte por crucifixão. O próprio Senhor o confirmou na fé após Sua ressurreição (da qual o apóstolo foi testemunha), tornando-o intrépido pregador do Evangelho através da descida do Espírito Santo de Deus, no Dia de Pentecostes, o que o tornou líder da primeira comunidade. Pregou no Dia de Pentecostes e selou seu apostolado com o próprio sangue, pois foi martirizado em uma das perseguições aos cristãos, sendo crucificado de cabeça para baixo a seu próprio pedido, por não se julgar digno de morrer como seu Senhor, Jesus Cristo. Escreveu duas Epístolas e, provavelmente, foi a fonte de informações para que São Marcos escrevesse seu Evangelho.

Paulo, cujo nome antes da conversão era Saulo ou Saul, era natural de Tarso. Recebeu educação esmerada “aos pés de Gamaliel”, um dos grandes mestres da Lei na época. Tornou-se fariseu zeloso, a ponto de perseguir e aprisionar os cristãos, sendo responsável pela morte de muitos deles.

Converteu-se à fé cristã no caminho de Damasco, quando o próprio Senhor Ressuscitado lhe apareceu e o chamou para o apostolado. Recebeu o batismo do Espírito Santo e preparou-se para o ministério.

Tornou-se um grande missionário e doutrinador, fundando muitas comunidades. De perseguidor passou a perseguido, sofreu muito pela fé e foi coroado com o martírio, sofrendo morte por decapitação. Escreveu treze Epístolas e ficou conhecido como o “Apóstolo dos gentios”.

quinta-feira, 27 de junho de 2024

A PALAVRA DE DEUS

 

1 Pedro 1

1 Pedro, apóstolo de Jesus Cristo,

aos eleitos de Deus, peregrinos dispersos no Ponto, na Galácia, na Capadócia, na província da Ásia e na Bitínia,

2 escolhidos de acordo com o pré-conhecimento de Deus Pai, pela obra santificadora do Espírito, para a obediência a Jesus Cristo e a aspersão do seu sangue:

Graça e paz lhes sejam multiplicadas.

A esperança da vida eterna

3 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! Conforme a sua grande misericórdia, ele nos regenerou para uma esperança viva, por meio da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos,

4 para uma herança que jamais poderá perecer, macular-se ou perder o seu valor. Herança guardada nos céus para vocês

5 que, mediante a fé, são protegidos pelo poder de Deus até chegar a salvação prestes a ser revelada no último tempo.

6 Nisso vocês exultam, ainda que agora, por um pouco de tempo, devam ser entristecidos por todo tipo de provação.

7 Assim acontece para que fique comprovado que a fé que vocês têm, muito mais valiosa do que o ouro que perece, mesmo que refinado pelo fogo, é genuína e resultará em louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo for revelado.

8 Mesmo não o tendo visto, vocês o amam; e, apesar de não o verem agora, creem nele e exultam com alegria indizível e gloriosa,

9 pois vocês estão alcançando o alvo da sua fé, a salvação das suas almas.

10 Foi a respeito dessa salvação que os profetas que falaram da graça destinada a vocês investigaram e examinaram,

11 procurando saber o tempo e as circunstâncias para os quais apontava o Espírito de Cristo que neles estava, quando predisse a vocês os sofrimentos de Cristo e as glórias que se seguiriam àqueles sofrimentos.

12 A eles foi revelado que estavam ministrando, não para si próprios, mas para vocês, quando falaram das coisas que agora lhes são anunciadas por meio daqueles que pregaram o evangelho pelo Espírito Santo enviado dos céus; coisas que até os anjos anseiam observar.

Sejam santos

13 Portanto, estejam com a mente preparada, prontos para agir; estejam alertas e ponham toda a esperança na graça que será dada a vocês quando Jesus Cristo for revelado.

14 Como filhos obedientes, não se deixem amoldar pelos maus desejos de outrora, quando viviam na ignorância.

15 Mas, assim como é santo aquele que os chamou, sejam santos vocês também em tudo o que fizerem,

16 pois está escrito: "Sejam santos, porque eu sou santo".

17 Uma vez que vocês chamam Pai àquele que julga imparcialmente as obras de cada um, portem-se com temor durante a jornada terrena de vocês.

18 Pois vocês sabem que não foi por meio de coisas perecíveis como prata ou ouro que vocês foram redimidos da sua maneira vazia de viver, transmitida por seus antepassados,

19 mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha e sem defeito,

20 conhecido antes da criação do mundo, revelado nestes últimos tempos em favor de vocês.

21 Por meio dele vocês creem em Deus, que o ressuscitou dentre os mortos e o glorificou, de modo que a fé e a esperança de vocês estão em Deus.

22 Agora que vocês purificaram a sua vida pela obediência à verdade, visando ao amor fraternal e sincero, amem sinceramente uns aos outros e de todo o coração.

23 Vocês foram regenerados, não de uma semente perecível, mas imperecível, por meio da palavra de Deus, viva e permanente.

24 Pois
"toda a humanidade
é como a relva
e toda a sua glória
como a flor da relva;
a relva murcha e cai a sua flor,

25 mas a palavra do Senhor
permanece para sempre".
Essa é a palavra que foi anunciada a vocês.

HISTÓRIA DOS APÓSTOLOS PEDRO E PAULO

 

Dados biográficos

Mais informações : Primeiros discípulos de Jesus
Estátua na Basílica de Nossa Senhora da Assunção do Mosteiro de São Bento na cidade de São Paulo

Antes de se tornar um dos doze discípulos de Cristo, Simão era pescador. Teria nascido em Betsaida e morava em Cafarnaum. Era filho de um homem chamado João ou Jonas e tinha por irmão o também apóstolo André. Simão e André eram "empresários" da pesca e tinham sua própria frota de barcos, em sociedade com TiagoJoão e o pai destes, Zebedeu.[18]

Possivelmente Pedro era casado e tinha pelo menos um filho.[19] As passagens de Mateus 8:14–15Marcos 1:29–31 e Lucas 4:38–41 relatam sua sogra sendo curada de febre por Cristo.

Segundo o relato em Lucas 5:1–11, no episódio conhecido como "Pesca milagrosa", Pedro teria conhecido Jesus quando este lhe pediu que utilizasse uma das suas barcas, de forma a poder pregar a uma multidão que o queria ouvir. Pedro, que estava a lavar redes com Tiago e João, seus sócios e filhos de Zebedeu, concedeu-lhe o lugar na barca, que foi afastada um pouco da margem.

No final da pregação, Jesus disse a Simão que fosse pescar de novo com as redes em águas mais profundas. Pedro disse-lhe que tentara em vão pescar durante toda a noite e nada conseguira mas, em atenção ao seu pedido, fá-lo-ia. O resultado foi uma pescaria de tal monta que as redes iam rebentando, sendo necessária a ajuda da barca dos seus dois sócios, que também quase se afundava puxando os peixes. Numa atitude de humildade e espanto Pedro prostrou-se perante Jesus e disse para que se afastasse dele, já que era um pecador. Jesus encorajou-o, então, a segui-lo, dizendo que o tornaria "pescador de homens".

Nos evangelhos sinóticos, o nome de Pedro sempre encabeça a lista dos discípulos de Jesus, o que na interpretação da Igreja Católica Romana deixa transparecer um lugar de primazia sobre o Colégio Apostólico. Não se descarta que Pedro, assim como seu irmão André, antes de seguir Jesus, tenha sido discípulo de João Batista.

Pedro com Jesus Cristo, em pintura de Eero Järnefelt

Outro dado interessante era a estreita amizade entre Pedro e João , fato atestado em todos os evangelhos, como por exemplo, na Última Ceia, quando pergunta ao Mestre, através do Discípulo amado (João), quem o haveria de trair ou quando ambos encontram o sepulcro de Cristo vazio no Domingo de Páscoa. Fato é que tal amizade perdurou até mesmo após a Ascensão de Jesus, como podemos constatar em Atos dos apóstolos, na cena da cura de um paralítico posto nas portas do Templo de Jerusalém.[20]

Segundo a tradição defendida pela Igreja Católica Romana e pela Igreja Ortodoxa, o apóstolo Pedro, depois de ter exercido o episcopado em Antioquia, teria se tornado o primeiro Bispo de Roma. Segundo esta tradição, depois de ser milagrosamente solto da prisão em Jerusalém, o apóstolo teria viajado até Roma e ali permanecido até ser expulso com os judeus e cristãos pelo imperador Cláudio, época em que haveria voltado a Jerusalém para participar da reunião de apóstolos sobre os rituais judeus no chamado Concílio de Jerusalém.[21] Após esta reunião, Pedro ficou em Jerusalém. Paulo, Barnabé, Judas (Barsabás) e Silas foram para Antioquia.[22]

Depois de três anos, Paulo volta a Jerusalem para visitar Pedro e com ele fica quinze dias.[23] Quatorze anos depois, Paulo retorna a Jerusalém e lá se encontra com Tiago, Pedro e João.[24]

Tempos depois, por volta da metade do século I, Pedro vai a Antioquia, onde ocorre uma discussão entre ele e Paulo, conhecida como o Incidente em Antioquia.[25]

A tradição da Igreja Católica Romana afirma que depois de passar por várias cidades, Pedro haveria sido martirizado em Roma entre 64 e 67 d.C. Desde a Reformateólogos e historiadores protestantes afirmaram que Pedro não teria ido a Roma; esta tese foi defendida mais proeminentemente por Ferdinand Christian Baur, da Escola de Tübingen. Outros, como Heinrich Dressel, em 1872, declararam que Pedro teria sido enterrado em Alexandria, no Egito ou em Antioquia.[5] Hoje, porém, os historiadores concordam que Pedro realmente viveu e morreu em Roma. O historiador luterano Adolf Harnack afirmou que as teses anteriores foram tendenciosas e prejudicaram o estudo sobre a vida de Pedro em Roma.[5] Sua vida continua sendo objeto de análise, mas o seu túmulo está localizado na Basílica de São Pedro, no Vaticano, o qual foi descoberto em 1950 após anos de meticulosa investigação.[6]

Alguns pesquisadores acreditam que, assim como Judas Iscariotes, Pedro tenha sido um zelota, grupo que teria surgido dos fariseus e constituía-se de pequenos camponeses e membros das camadas mais pobres da sociedade. Este supostamente estaria comprovado em Marcos 3:18, assim como em Atos 1:13, no entanto, o certo "Simão, o Zelote" é na realidade uma pessoa distinta dentre as nomeações descritas nas referidas citações.

O primado de Pedro segundo a Igreja Católica

Cristo entrega as chaves do céu a Pedro
PeruginoCapela Sistina
Ver artigo principal: Confissão de Pedro

Toda a primeira parte do Evangelho gira em torno da identidade de Jesus. Quando perguntado, Simão foi o primeiro dos discípulos a responder essa pergunta: Jesus é o filho de Deus. É esse acontecimento que leva Jesus a chamá-lo de Pedro e é conhecido como Confissão de Pedro.

Encontramos o relato do evento em Mateus 16:13–19: Jesus pergunta aos seus discípulos (depois de se informar do que sobre ele corria entre o povo): "E vós, quem pensais que sou eu?".

Simão Pedro, respondendo, disse: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo". Jesus respondeu-lhe: "Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne ou sangue que te revelaram isso, e sim Meu Pai que está nos céus. Também Eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei Minha Igreja[26] e as portas do Hades[27] nunca prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus. E o que desligares na terra será desligado[28] nos céus".João 21:15–17 e Lucas 22:31 também falam a respeito do primado de Pedro dever ser exercido particularmente na ordem da Fé, e que Cristo o torna chefe:

Jesus disse a Simão (Pedro): "Simão, filho de João, tu Me amas mais do que estes?" Ele lhe respondeu: "Sim, Senhor, tu sabes que te amo". Jesus lhe disse: "Apascenta Meus cordeiros". Segunda vez disse-lhe: "Simão filho de João, tu Me amas?" - "Sim, Senhor", disse ele, "tu sabes que te amo". Disse-lhe Jesus: "Apascenta Minhas ovelhas". Pela terceira vez lhe disse: "Simão filho de João, tu Me amas?" Entristeceu-se Pedro porque pela terceira vez lhe perguntara 'Tu Me amas?' e lhe disse: "Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo". Jesus lhe disse: "Apascenta Minhas ovelhas." (João 21:15–17).«Simão, Simão, eis que Satanás pediu insistentemente para vos peneirar como trigo; Eu, porém, orei por ti, a fim de que tua fé não desfaleça. Quando, porém, te converteres, confirma teus irmãos.» (Lucas 22:31–32)

O apóstolo Pedro, o primeiro Bispo de Roma

São Pedro
Por El GrecoMosteiro e Sítio do Escorial

A comunidade de Roma foi fundada pelos apóstolos Pedro e Paulo e é considerada a única comunidade cristã do mundo fundada por mais de um apóstolo e a única do Ocidente instituída por um deles. Por esta razão desde a antiguidade a comunidade de Roma (chamada atualmente de Santa Sé pelos católicos) teve o primado sobre todas as outras comunidades locais (dioceses); nessa visão o ministério de Pedro continua sendo exercido até hoje pelo Bispo de Roma (segundo o catolicismo romano), assim como o ministério dos outros apóstolos é cumprido pelos outros Bispos unidos a ele, que é a cabeça do colégio apostólico, do colégio episcopal. A sucessão papal (de Pedro) começou com São Lino (67 d.C.) e, atualmente é exercida pelo Papa Francisco, eleito em 13 de março de 2013. Segundo essa visão, o próprio apóstolo Pedro atestou que exerceu o seu ministério em Roma ao concluir a sua primeira epístola: "A [Igreja] que está em Babilônia, eleita como vós, vos saúda, como também Marcos, meu filho.".[29] Trata-se da Igreja de Roma.[30] Assim também o interpretaram todos os autores desde a Antiguidade, como abaixo, como sendo a Roma Imperial (decadente). O termo não pode referir-se a Babilônia sobre o Eufrates, que jazia em ruínas ou à Nova Babilônia (Selêucia) sobre o rio Tigre, ou à Babilônia Egípcia cerca de Mênfis, tampouco a Jerusalém; deve, portanto referir-se a Roma, a única cidade que é chamada Babilônia pela antiga literatura cristã.[31]

Testemunhos históricos de Pedro em Roma

Os historiadores atualmente acreditam que a tradição católica esteja correta; igualmente, muitas tradições antigas corroboram a versão de que Pedro esteve em Roma e que ali teria sido martirizado.

  • Clemente, terceiro bispo de Roma e discípulo de Pedro, por volta de (96 d.C.), em sua Epístola aos Coríntios, faz clara alusão ao martírio deste e de Paulo em Roma:
Todavia, deixando os exemplos antigos, examinemos os atletas que viveram mais próximos de nós. Tomemos os nobres exemplos de nossa geração. Foi por causa do ciúme e da inveja que as colunas mais altas e justas foram perseguidas e lutaram até a morte. Consideremos os bons apóstolos. Pedro, pela inveja injusta, suportou não uma ou duas, mas muitas tribulações e, depois de ter prestado testemunho, foi para o lugar glorioso que lhe era devido. Por causa da inveja e da discórdia, Paulo mostrou o preço reservado à perseverança. Sete vezes carregando cadeias, exilado, apedrejado, tornando-se arauto no Oriente e no Ocidente, ele deu testemunho diante das autoridades, deixou o mundo e se foi para o lugar santo, tornando-se o maior modelo de perseverança.[32]
  • Inácio de Antioquiabispomártir e também discípulo de Pedro, em cerca de (107 d.C.), em sua Epístola aos Romanos, a qual fora dirigida à comunidade cristã lá situada, refere-se nos seguintes termos ao martírio de Pedro e Paulo em Roma:
"Não vos dou ordens como Pedro e Paulo; eles eram apóstolos, eu sou um condenado. Eles eram livres, e eu até agora sou um escravo".[33]
Papias, bispo de Hierápolis, atesta a atribuição do segundo evangelho a Marcos, “intérprete” de Pedro em Roma. O livro teria sido composto em Roma, depois da morte de Pedro (prólogo antimarcionita de século IIIreneu) ou ainda durante sua vida (segundo Clemente de Alexandria). Quanto a Marcos, foi identificado como João Marcos, originário de Jerusalém (At 12,12), companheiro de Paulo e Barnabé (At 12,25; 13,5.13; 15,37-39; Cl 4,10) e, a seguir, de Pedro em “Babilônia” (isto é, provavelmente, em Roma) segundo 1Pd 5,13.[34]
Tendo vindo ambos a Corinto, os dois apóstolos Pedro e Paulo nos formaram na doutrina do Evangelho. A seguir, indo para a Itália, eles vos transmitiram os mesmos ensinamentos e, por fim, sofreram o martírio simultaneamente.[35]
  • Gaio, presbítero romano, em 199 d.C.:
Nós aqui em Roma temos algo melhor do que o túmulo de Filipe. Possuímos os troféus dos apóstolos fundadores desta Igreja local. Ide à Via Ostiense e lá encontrareis o troféu de Paulo; ide ao Vaticano e lá vereis o troféu de Pedro.




Paulo de Tarso

 Nota: Este artigo é sobre o apóstolo São Paulo. Para outros significados, veja São Paulo (desambiguação).
São Paulo
São Paulo de Guercino
Apóstolo dos gentios e mártir
Nascimentoca. c. 5[1]
Tarso, na CilíciaImpério Romano[a]
Morte67 (62 anos)[2] :p. 411
Veneração porToda a cristandade
Principal temploBasílica de São Paulo Extramuros, na Via OstienseRoma
Festa litúrgica29 de junho (Festa de São Pedro e São Paulo[3]
25 de janeiro (Festa da Conversão de São Paulo)[4][5]
Atribuiçõeshomem segurando uma espada e um livro[3]
Padroeiroautores, imprensa, editoras, escritores,[3] São PauloMaltaRoma e Londres
PolêmicasControvérsia da circuncisão
 Portal dos Santos

Paulo[b] (nascido Saulo de Tarso;[c]Cilícia c. 5 – c. 67), comumente conhecido como Paulo de Tarso ou São Paulo, foi um dos mais influentes escritoresteólogos e pregadores do cristianismo, cujas obras compõem parte significativa do Novo Testamento. A influência que exerceu no pensamento cristão, chamada "paulinismo", foi fundamental por causa do seu papel como preeminente apóstolo do Cristianismo durante a propagação inicial do Evangelho pelo Império Romano. Paulo também exerce uma grande influência na filosofia cristã, tendo Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino usufruido de seu pensamento.[6][7][8]

Conhecido também como Saulo, se dedicava à perseguição dos primeiros discípulos de Jesus na região de Jerusalém.[d] De acordo com o relato na Bíblia, durante uma viagem entre Jerusalém e Damasco, numa missão para que, encontrando fiéis por lá, "os levasse presos a Jerusalém", Saulo teve uma visão de Jesus envolto numa grande luz, ficou cego, mas teve a visão recuperada após três dias por Ananias, que também o batizou. Começou então a pregar o Cristianismo.[e] Juntamente com Simão Pedro e Tiago, o Justo, ele foi um dos mais proeminentes líderes do nascente cristianismo.[9] Era também cidadão romano, o que lhe conferia uma situação legal privilegiada.[10] A questão de sua cidadania romana gera certa curiosidade. Paulo afirma em Atos 22, 28 ser romano "de nascimento". Tal declaração parece indicar que o apóstolo herdou essa posição de seu pai.[11]

Treze epístolas no Novo Testamento são atribuídas a Paulo, mas a sua autoria em sete delas é contestada por estudiosos modernos. Agostinho desenvolveu a ideia de Paulo que a salvação é baseada na fé e não nas "obras da Lei", vide Romanos 3:28. A interpretação de Martinho Lutero das obras de Paulo influenciou fortemente sua doutrina de sola fide.[6]

A conversão de Paulo mudou radicalmente o curso de sua vida. Com suas atividades missionárias e obras, Paulo acabou transformando as crenças religiosas e a filosofia de toda a região da bacia do Mediterrâneo. Sua liderança, influência e legado levaram à formação de comunidades dominadas por grupos gentios que adoravam o Deus de Israel, aderiam ao código moral judaico, mas que abandonaram o ritual e as obrigações alimentares da Lei Mosaica por causa dos ensinamentos de Paulo sobre a vida e obra de Jesus e seu "Novo Testamento", fundamentados na morte de Jesus e na sua ressurreição.[f]

Fontes de informação

Conversão do procônsul Sérgio Paulo, de quem Saulo pode ter tomado emprestado o nome.
Por Rafael, no Museu Vitória e Alberto, em Londres

A principal fonte para informações históricas sobre a vida de Paulo são as pistas encontradas em suas epístolas e nos Atos dos Apóstolos. Os Atos recontam a carreira de Paulo, mas deixam de fora diversas partes de sua vida, como a sua alegada execução em Roma.[6]

Estudiosos como Hans Conzelmann e o teólogo John Knox (não deve ser confundido com John Knox do século XVI), disputam a confiabilidade histórica dos Atos dos Apóstolos.[12][13] O relato do próprio Paulo sobre seu passado está principalmente na Epístola aos Gálatas. De acordo com alguns acadêmicos, o relato da visita de Paulo a Jerusalém em Atos 11 contradiz o relato nas epístolas paulinas.[6] Outros consideram o relato de Paulo nas epístolas como sendo mais confiável do que os encontrados nos "Atos".[2]:p. 316-320

Nomes

O nome original de Paulo era "Saulo" (em hebraicoשָׁאוּלSha'ultiberiano: Šāʼûl - "o que se pediu, o que se orou por" e traduzido em grego clássicoΣαούλ - Saul - ou Σαῦλος - Saulos),[14][15] nome que divide com o bíblico rei Saul, um outro benjaminita e primeiro rei de Israel, que foi sucedido pelo rei Davi, da tribo de Judá.[10][16] Segundo suas próprias palavras, era um fariseu.[g]

O uso de "Paulo" (em gregoΠαῦλος - Paulos; em latimPaulus ou Paullus - "baixo"; "curto"[17]) aparece nos "Atos" pela primeira vez quando ele começou sua primeira jornada missionária em território desconhecido. Em Atos 13:6–13, Paulo aparece, juntamente com Barnabé e João Marcos, conversando com Sérgio Paulo, um oficial romano em Chipre que será convertido por ele. Paulus era um sobrenome romano e alguns argumentam que Paulo o adotou como seu primeiro nome.[18] Outra teoria, apontada pelo Vaticano, afirma que era costume para os judeus romanizados da época adotarem um nome romano e o pai de Paulo provavelmente quis agradar à família dos Pauli.[19] Por fim, há ainda os que consideram possível a homenagem a Sérgio Paulo e mais provável que a mudança esteja mais relacionada a um desejo do apóstolo em se distanciar da história do Rei Saul, que perseguiu Davi.[20]

Antes da conversão

Em "Atos dos Apóstolos", Paulo afirma ter nascido em Tarso (na província de Mersin, na parte meridional da Turquia central) e faz breves menções à sua família. Um sobrinho é mencionado em Atos 23, 16 e sua mãe é citada entre os que moram em Roma em Romanos 16:13. É ali também que o apóstolo confessa que «Saulo assolava a igreja, entrando pelas casas e, arrastando homens e mulheres, os entregava à prisão.» (Atos 8:3).[h]

Mesmo tendo nascido em Tarso, foi criado em Jerusalém, "aos pés de Gamaliel",[i] que é considerado um dos maiores professores nos anais do judaísmo e cujo equilibrado conselho (Atos 5:34–39), pedindo que os judeus contivessem a fúria contra os discípulos, contrasta com a temeridade de seu estudante que, após a morte de Estêvão, saiu num rompante perseguindo os "santos".[j]

Conversão e a sua missão

Ver artigo principal: Conversão do apóstolo Paulo
Conversão de Saulo em Damasco, na Síria

A conversão de Paulo pode ser datada entre os anos de 31 e 36[21][22][23] pela referência que ele fez em uma de suas epístolas.[6] De acordo com os "Atos dos Apóstolos", sua conversão (metanoia) ocorreu na "estrada para Damasco", onde ele afirmou ter tido uma visão de Jesus ressuscitado que o deixou temporariamente cego.[k]

Testemunho pós-conversão

Nos versículos iniciais da Epístola aos Romanos, Paulo nos dá uma litania de sua própria alegação apostólica e de suas convicções pós-conversão sobre a ressurreição de Cristo.

Os seus próprios textos nos dão alguma ideia sobre o que ele pensava de sua relação com o Judaísmo. Se por um lado se mostrava crítico, tanto teologicamente quanto empiricamente, das alegações de superioridade moral ou de linhagem dos judeus,[l] por outro defendia fortemente a noção de um lugar especial reservado aos filhos de Israel.[m]

Ele ainda afirmou que recebeu as "boas novas" não de qualquer um, mas por uma revelação pessoal de Jesus Cristo.[n] Por isso, ele se entendia independente da comunidade de Jerusalém[2]:p. 316 - 320 (possivelmente no Cenáculo), embora alegasse sua concordância com ela no que tangia ao conteúdo do Evangelho.[o] O que é mais impressionante nessa conversão é a mudança na forma de pensar que ocorreu. Ele teve que mudar seu conceito sobre quem o Messias era e, particularmente, aceitar a ideia, então absurda, de um Messias crucificado. Ou talvez o mais difícil tenha sido a mudança de seus conceitos sobre a superioridade dos judeus. Ainda há debates sobre se Paulo já se considerou como o veículo de evangelização dos gentios no momento de sua conversão ou se isto se deu mais tarde.[24]

Batismo de Paulo por Ananias na casa de Ananias, em Damasco, na Síria

Primeiros anos de ministério

Após a sua conversão, Paulo foi para Damasco, onde os "Atos" afirmam que foi curado de sua cegueira e batizado por Ananias de Damasco.[25] Paulo afirma em 2 Coríntios 11:32 que foi em Damasco que ele escapou por pouco da morte, indo em seguida primeiro para a Arábia e depois de volta para Damasco.[p][26] Esta viagem de Paulo para a Arábia não é mencionada em nenhum outro lugar no Novo Testamento e alguns autores acreditam que ele tenha na realidade viajado até o Monte Sinai para meditar no deserto.[27][28] Ele descreve em Gálatas como, três anos após a sua conversão, ele viajou para Jerusalém, onde se encontrou com Tiago, o Justo, e ficou com Simão Pedro por 15 dias.[q]

A narrativa em Gálatas continua afirmando que, quatorze anos após a sua conversão, ele foi de novo a Jerusalém.[r] Não se sabe exatamente o que aconteceu neste período, conhecido como "anos desconhecidos", mas tanto os Atos quanto os Gálatas nos dão algumas pistas.[29] Ao final deste período, Barnabé foi ao encontro de Paulo e o trouxe de volta para Antioquia.[s] O autor F. F. Bruce sugeriu que os quatorze anos podem ser contados a partir da conversão de Paulo ao invés de sua primeira visita a Jerusalém.[30]

Quando uma grande fome ocorreu na Judeia,[31] Paulo e Barnabé viajaram para Jerusalém para entregar a ajuda financeira da igreja de Antioquia.[32] De acordo com os Atos, Antioquia já tinha se tornado um centro importante para os fiéis após a dispersão dos crentes que se seguiu ao martírio de Estêvão[2] e foi lá que os seguidores de Jesus foram, pela primeira vez, chamados cristãos.[s]

Primeira viagem missionária

Primeira viagem

Nos Atos, relatam-se três viagens de Paulo: a primeira, liderada primeiro por Barnabé, levou Paulo de Antioquia até Chipre, passando depois pela Ásia Menor (Anatólia) e de volta a Antioquia. Em Chipre, Paulo enfrenta e cega Elimas, o mago, que estava criticando seus ensinamentos ao procônsul Sérgio Paulo. Deste ponto em diante, passa a ser chamado Paulo e aparece como o líder do grupo.[33] Quando chegaram em PergeJoão Marcos, que acompanhava o grupo, voltou para Jerusalém e os dois foram para Antioquia na Pisídia, Paulo profere um longo discurso e converte muitos, mas o grupo acaba expulso da cidade (Atos 13). Em Icônio, foram novamente expulsos e seguiram para Listra, onde foram confundidos com os deuses romanos Júpiter e Mercúrio depois que Paulo curou um coxo. Por conta da intriga dos judeus, Paulo foi preso e apedrejado, mas sobreviveu e, com Barnabé, seguiu para Derbe. De lá, retornaram passando novamente pelas mesmas cidades para reforçar as comunidades recém-fundadas e terminaram a viagem em Antioquia (Atos 14).

Segunda viagem missionária

Segunda viagem

Concílio de Jerusalém

Paulo partiu para sua segunda viagem de Jerusalém, onde estava sendo realizado o concílio com os outros apóstolos no qual a obrigatoriedade da circuncisão foi retirada. A maior parte dos acadêmicos concorda que houve uma reunião vital entre Paulo e a igreja de Jerusalém em algum momento entre os anos de 48 e 50,[6] descrita em Atos 15:2 e geralmente entendido como o mesmo evento mencionado por Paulo em Gálatas 2:1.[6] A principal questão discutida ali foi se os gentios convertidos precisavam ou não ser circuncidados, conforme o relato nos Atos e em Gálatas. Paulo alega em sua epístola que terá sido neste encontro que Pedro, Tiago e João aceitaram a missão de Paulo aos gentios.[34]

Com o objetivo de levar a Antioquia o resultado do concílio, os fiéis realizaram uma eleição para escolher dois mensageiros que acompanhariam Paulo e Barnabé nessa missão. Os eleitos então foram Silas e Judas, "chamado Barsabá".[t]

Paulo, Barnabé, Judas e Silas partiram então de Jerusalém levando os decretos dos apóstolos aos fiéis em Antioquia e nas províncias romanas da Síria e Cilícia. Chegando a Antioquia, eles cumprem a missão que lhes foi dada, sendo que Judas retorna para Jerusalém e desaparece da história, enquanto Silas permanece na cidade.[u]

Paulo e Barnabé em Listra.
Por Nicolaes Berchem, 1650. Atualmente no Musée d'Art et d'Industrie, em Saint-Étienne, na França

Paulo e Silas

Em Antioquia, Paulo e Barnabé tiveram uma dura discussão sobre se deveriam levar João Marcos com eles. Em Atos 13, é mencionado que o menino já os tinha deixado em uma viagem anterior para retornar para casa. Paulo acreditava que ele ainda não estava pronto para este tipo de evangelização e, por isso, ele e Barnabé decidiram se separar. Barnabé acabou levando João Marcos consigo para Chipre e Silas se juntou a Paulo.[35]

Paulo e Silas viajaram para diversas cidades diferentes, como Tarso, Derbe e Listra (todas na Ásia Menor). Nesta última, eles encontraram Timóteo, um discípulo que tinha uma boa reputação, e decidiram levá-lo com eles. Em Filipos (na Grécia), uma multidão incitada por homens insatisfeitos com o exorcismo de uma escrava que dava muitos lucros aos seus patrões com suas adivinhações, se insurgiu contra os missionários, açoitando e prendendo Paulo e Silas. Após um milagroso terremoto, os portões da prisão se abriram e os dois puderam escapar, o que levou por sua vez à conversão do carcereiro.[v] Eles seguem então para Bereia, de onde Paulo segue para Atenas, deixando ali Silas e Timóteo.[w] Na capital grega, Paulo prega no Areópago contra os muitos ídolos que encontra, converte Dionísio, o Areopagita e parte.[x]

Por volta de 50 a 52, Paulo passou 18 meses em Corinto, onde reencontrou Timóteo e Silas. A referência nos Atos ao procônsul Gálio permite inferir a data (vide Inscrição de Gálio). Lá ele trabalhou com Silas e Timóteo[6] e conheceu Priscila e Áquila, que se tornaram fiéis crentes e ajudaram Paulo em suas viagens missionárias. A dupla seguiu Paulo e seus companheiros até Éfeso e o grupo permaneceu ali para iniciar aquela que seria a mais forte e fiel igreja cristã daquele tempo, um importante centro da cristandade a partir do ano 50. Em 52, Partiu para Cesareia Marítima, passou por Jerusalém e finalmente chegou em Antioquia.[35]

Terceira viagem missionária

Terceira viagem

Paulo iniciou sua terceira viagem missionária passando por toda a região da Galácia e da Frígia para reforçar a fé e ensinar para os fiéis, além de repreender os que estavam em erro. Quando chegou em Éfeso, ficou ali por pouco menos de três meses e realizou uma série de milagres, como curas e exorcismos. Depois de provocar uma revolta na cidade, o apóstolo seguiu para a Macedônia,[36] passando novamente por Corinto, onde permaneceu por três meses. Quando ele estava pronto para retornar para a Síria, mudou de ideia por conta de um plano que os judeus tinham feito contra sua vida, voltando então para a Macedônia e dali seguiu para a Trôade, onde ressuscitou o jovem Êutico depois de ele ter caído três andares e ter sido «levantado morto» (Atos 20:9).[37] A viagem de Paulo, que pretendia chegar em Jerusalém para celebrar o Pentecostes (entre maio e junho), continuou passando por AssosMitileneQuiosSamos e Mileto (Atos 20). A dura jornada passou ainda por CósRodes e Patara, onde Paulo embarca num navio com destino à Tiro, na Fenícia. Depois de sete dias na cidade, o grupo de Paulo segue para Ptolemaida, Cesareia, onde visitaram Filipe, o Evangelista, e finalmente Jerusalém (Atos 21).

Embora Paulo tenha escrito sobre uma visita que fez a Ilíria, ele estava se referindo ao que hoje chamamos Ilíria Grega,[38] parte da província romana da Macedônia, onde hoje é atualmente a Albânia.[39]

Viagem a Roma

Ver artigo principal: Atos 27
Estátua de São Paulo na Basílica de Nossa Senhora da Assunção do Mosteiro de São Bento (São Paulo) na cidade de São Paulo, Brasil

Paulo e seus companheiros seguiram então para Roma, naquela que foi provavelmente a última das viagens missionárias, em 60. A viagem começou em Jerusalém, onde os irmãos foram recebidos em festa. Lá, Paulo foi espancado e quase morto, preso e enviado para Cesareia Marítima, onde esteve detido durante aproximadamente um ano e meio. Foi transferido para Roma depois de apelar a César, um direito que tinha por ser cidadão romano, ao perceber que não receberia julgamento justo de seu povo. Paulo passou então a pregar na capital imperial.[40]

O Incidente em Antioquia

Ver artigos principais: Incidente em Antioquia e Epístola aos Gálatas

Apesar do acordo encontrado no Concílio de Jerusalém, como tinha entendido Paulo, o apóstolo relata como ele depois confrontou publicamente Pedro, no que ficou conhecido como "Incidente em Antioquia", por causa da relutância dele em realizar suas refeições com os cristãos gentios em Antioquia.[41]

Escrevendo depois sobre o incidente, relata ter dito a Pedro e os demais presentes «Se tu, sendo judeu, vives como gentio, e não como judeu, como obrigas os gentios a viver como os judeus?» (Gálatas 2:11–14). Paulo também menciona que até mesmo Barnabé, seu companheiro de viagem até aquele momento, ficou do lado de Pedro.[41][y]

O resultado final do incidente permanece incerto. A Enciclopédia Católica afirma que "o relato de Paulo sobre o incidente não deixa dúvidas de que Pedro viu justiça na reprimenda". Em contraste, a obra "From Jesus to Christianity", de L. Michael White, alega que "o confronto com Pedro foi uma falha completa, uma bravata política, e Paulo logo deixou Antioquia como persona non grata para nunca mais voltar".[42]

Visitas a Jerusalém nos Atos e nas Epístolas

Esta tabela foi adaptada da obra de White, From Jesus to Christianity.[34] Este pareamento entre as viagens de Paulo como narradas nos Atos e nas Epístolas não é consenso entre os acadêmicos.

Atos dos ApóstolosEpístolas
  • Primeira visita a Jerusalém[z]
    • "Decorridos muitos dias" da conversão em Damasco
    • Prega abertamente em Jerusalém com Barnabé
    • Encontra os apóstolos
  • Primeira visita a Jerusalém[aa]
    • Três anos após a conversão de Damasco
    • Vê apenas Pedro (Cefas) e Tiago
  • Segunda visita a Jerusalém[ab]
    • Levando a ajuda financeira por conta da fome
  • Há um debate sobre se a viagem de Paulo em Gálatas 2 se refere à visita para ajudar na fome ou sobre o Concílio de Jerusalém. Se for à primeira, então esta é a visita feita.[ac]
  • Terceira visita a Jerusalém[ad]
    • com Barnabé
    • "Concílio de Jerusalém"
    • Seguida pelo confronto com Barnabé em Antioquia sobre João Marcos[ae]
  • Outra [af] visita a Jerusalém[r]
    • 14 anos depois (após a conversão de Damasco?)
    • Com Barnabé e Tito
    • possivelmente o "Concílio de Jerusalém"
    • Paulo concorda em "se lembrar dos pobres"
    • Seguida pela confrontação com Pedro e Barnabé em Antioquia[ag]
  • Quarta visita a Jerusalém[ah]
    • Para cumprimentar a igreja
  • Aparentemente não é mencionada.
  • Quinta visita a Jerusalém[ai]
    • Após uma ausência de muitos anos[aj]
    • Para "trazer esmolas à minha nação, e fazer oferenda"
    • Paulo é preso
  • Outra[ak] visita a Jerusalém[al]
    • Para "trazer esmolas"

Prisão e morte

Tiago, irmão de Jesus,[am] líder dos cristãos de Jerusalém, que avisou Paulo sobre os riscos de pregar contra a Torá em Jerusalém.[6]

Paulo chegou a Jerusalém em 57 com uma coleta de dinheiro que tinha feito para a comunidade local[6] e, segundo Atos, ele foi recebido calorosamente. Porém, o relato continua afirmando que ele foi interrogado por Tiago por ensinar a «[…] todos os judeus que estão entre os gentios a apostatarem de Moisés, dizendo-lhes que não circuncidem seus filhos nem andem segundo os nossos ritos» (Atos 21:22). Paulo então realizou um ritual de purificação para não dar aos judeus nenhum motivo para acusá-lo por não seguir os mandamentos da Lei.[6]

Paulo porém continuava a pregar contra a circuncisão, contra as restrições alimentares e contra os requerimentos da Torá e isto provocou o rompimento final com os judeus. Paulo causou um alvoroço ao aparecer no Templo e somente escapou da morte por ter sido preso. Ele foi então mantido prisioneiro por dois anos em Cesareia até que um novo governador reabrisse seu caso em 59. Quando Paulo foi acusado de traição apelou ao César, alegando seu direito, como cidadão romano, de ser levado a um tribunal apropriado e de se defender das acusações.[6]

Atos 28:1 relata que no caminho para Roma, Paulo sofreu um naufrágio em "Melite" (Malta),[6] onde ele se encontrou com Públio[an] e foi recebido pelos habitantes da ilha com "muita humanidade".[ao] Ele chegou a Roma por volta do ano 60 e passou mais dois anos em prisão domiciliar.[ap] Contando esta vez, Paulo passou entre cinco e seis anos preso em celas ou prisioneiro em casa.

Ireneu de Lyon acreditava que Pedro e Paulo tinham sido os fundadores da Igreja de Roma, sendo eles a nominarem São Lino como bispo e sucessor:

[…] Igreja fundada e organizada em Roma pelos dois mais gloriosos apóstolos, Pedro e Paulo; também [ensinando] a fé pregada aos homens, que chegou aos nossos dias através da sucessão dos bispos[…] .Os abençoados apóstolos, então, tendo fundado e abençoado a Igreja, entregaram nas mãos de Lino o episcopado.
 

Paulo, porém, não foi bispo de Roma e nem levou o cristianismo para lá, pois já havia cristãos em Roma quando ele chegou lá.[aq] É evidente também que Paulo já tinha escrito uma epístola para a Igreja de Roma antes de ter visitado a cidade.[ar] Porém, Paulo pode ter tido um importante papel na formação da Igreja na capital romana.

Tradição sobre a morte de Paulo

Decapitação de São Paulo.
Por Enrique Simonet, 1887
Ver artigo principal: Santa Tradição

Nem a Bíblia e nem outra história qualquer conta explicitamente como ou quando Paulo morreu. De acordo com a tradição cristã, Paulo foi decapitado em Roma durante o reino do imperador Nero em meados dos anos 60 na Abadia das Três Fontes (em italianoTre Fontane).[44] O tratamento mais "humano" dado a Paulo, em contraste com a crucificação invertida de São Pedro, foi graças à sua cidadania romana.[45]

Vários autores cristãos da Antiguidade já propuseram mais detalhes sobre a morte de Paulo. I Clemente, uma carta escrita pelo bispo de Roma, Clemente, por volta do ano 90 relata o seguinte sobre Paulo:[46]

"Por causa de inveja e brigas, Paulo, pelo exemplo, mostrou a recompensa da resistência paciente. Após ele ter sido preso por sete vezes, ter sido exilado, apedrejado e ter pregado no ocidente e no oriente, ele recebeu o reconhecimento que era o prêmio da sua fé, tendo ensinado a retidão para o mundo inteiro e tendo chegado aos confins do ocidente. E quando ele já tinha dado seu testemunho perante os governantes, partiu deste mundo e foi para um lugar sagrado, tendo encontrado um notável padrão de resistência paciente.
 
— I Clemente, Clemente de Roma.
Basílica de São Paulo Extramuros com a estátua de Paulo na frente. Na basílica encontram-se as alegadas relíquias do apóstolo.
Em Roma

Comentando sobre esta passagem, Raymond Brown escreve que, ainda que ela não afirme categoricamente que Paulo foi martirizado em Roma, "[…] algo assim é a mais provável interpretação".[47]

Eusébio de Cesareia, que escreveu no século IV, afirma que Paulo foi decapitado durante o reino do imperador romano Nero.[48] Este evento tem sido datado ou no ano de 64, quando Roma foi devastada por um incêndio, ou alguns anos depois, em 67. A festa de São Pedro e São Paulo, da Igreja Católica, é comemorada em 29 de junho, o que pode refletir uma data tradicional para o seu martírio. Outras fontes também apontaram uma tradição de que Pedro e Paulo teriam morrido no mesmo dia (e, possivelmente, no mesmo ano).[49]

apócrifo Atos de Pedro sugere que Paulo sobreviveu a Roma e viajou para o oeste, para a Hispânia.[50] Alguns mantêm o ponto de vista que ele poderia ter visitado a Grécia e a Ásia Menor após a sua viagem à Hispânia e que ele pode ter sido finalmente preso em Troas e enviado a Roma para ser executado[51] (veja-se a discussão acima sobre as epístolas a Timóteo).

Túmulo e relíquias

A tradição cristã mantém que Paulo foi enterrado com São Pedro "Próximo as Catacumbas" (ad Catacumbas) na Via Ápia e lá permaneceu até seu corpo ser levado para a Basílica de São Paulo Extramuros, em Roma. O venerável Beda, em sua História Eclesiástica do Povo Inglês, escreveu que o papa Vitaliano, em 665, deu algumas relíquias de Paulo (incluindo a cruz feita com as correntes que o prenderam) ao rei Osvio da Nortúmbria, no norte da Inglaterra.[52]

Ainda segundo a tradição, o túmulo de Paulo estaria localizado na Basílica de São Paulo Extramuros, em Roma.[53] Escavações foram realizadas conforme o relato feito em um comunicado da Agência Católica Internacional de Imprensa (APIC - Agence de Presse Internationale Catholique), de 17 de fevereiro de 2005:[54]

Um sarcófago que pode conter as relíquias do apóstolo Paulo foi identificado na Basílica de São Paulo Extra-Muros, de acordo com Giorgio Filippi, chefe do departamento epigráfico do Museu do Vaticano.

Sob o altar elevado, está uma laje de mármore do século IV, que sempre esteve visível, contém uma inscrição PAULO APOSTOLO MART (Paulo Apóstolo Mártir). A placa tem três furos e provavelmente está relacionada com o culto funerário de São Paulo. De acordo com Giorgio Filippi, esses buracos foram usados para a "criação de relíquias" por meio de simples contato com o túmulo do apóstolo.
Ao longo da Via Ostiense, um santuário foi erguido sobre o túmulo do apóstolo Paulo ainda no século I Como já fizera com São Pedro, o imperador romano Constantino, começou, no início do século IV, a construir uma basílica para abrigar o túmulo. Então, em 386, meio século após a do imperador e por conta do afluxo de peregrinos, uma basílica ainda maior foi construída por ordem dos imperadores Valentiniano IITeodósio I e Arcádio.

 
— Agência Católica Internacional de Imprensa[54].

Em junho de 2009 o papa Bento XVI anunciou os resultados das escavações ali realizadas. O sarcófago em si não foi aberto, mas foi examinado por meio de uma sonda e revelou pedaços de incenso e de linho, azul e púrpura, assim como pequenos fragmentos de osso, que foram datados por radiocarbono como sendo do século I ou II. De acordo com o Vaticano, isto é uma evidência a favor da tradição de que ali está efetivamente o túmulo de Paulo.[55]

Obras

Epístola aos Gálatas.
Novo Testamento de 1524
Ver artigo principal: Epístolas paulinas

Quatorze epístolas do Novo Testamento são atribuídas a Paulo, das quais sete têm a autoria quase que universalmente aceita, enquanto as outras sete são disputadas: EfésiosColossenses2 Tessalonicenses1 TimóteoTito e Hebreus. Destas, quatro são consideradas como sendo de outro autor que não Paulo por razões textuais e gramaticais, enquanto que as outras três são disputadas por alguns acadêmicos.[56] Paulo aparentemente ditou todas as suas epístolas (exceto Gálatas) através de um secretário (ou amanuense), que geralmente parafraseava o tom de sua mensagem, como era a prática entre os escribas do século I.[2] :316-320[57]

Estas epístolas circularam entre as comunidades cristãs e eram lidas em público por membros da igreja, juntamente com outras obras.[58] Elas foram citadas ainda no século I, por volta de 96, por Clemente de Roma em sua epístola Clemente aos Coríntios.[46]

Atribuição de suas obras

Paulo escrevendo suas epístolas.
Valentin de Boulogne ou Nicolas Tournierséculo XVI, atualmente na Blaffer Foundation Collection, HoustonTexas

As epístolas paulinas foram na sua maioria escritas para igrejas que Paulo visitou e o apóstolo era um grande viajante. Ele passou por Chipre, por toda a Ásia Menor, pela GréciaCreta e Roma. Elas estão repletas de exposições sobre o que os cristãos deveriam acreditar e como deveriam viver, ao passo que ele não relata ao destinatário (e aos leitores modernos) muito sobre a vida de Jesus. Suas mais explícitas referências são passagens sobre a Última Ceia[as] e a crucificação e ressurreição.[at] As referências aos ensinamentos de Jesus são também esparsos,[au] levantando a questão, ainda em disputa, sobre o quão consistente é seu relato sobre a fé com o que está nos quatro evangelhos canônicos, os Atos e a Epístola de Tiago. O ponto de vista de que o Cristo de Paulo é diferente do Jesus histórico foi proposta pelo teólogo Adolf von Harnack.[59] De toda maneira, ele nos dá o primeiro relato escrito do que é ser cristão e da espiritualidade cristã.

Das catorze cartas atribuídas a Paulo e incluídas no cânone do Novo Testamento, há pouca ou nenhuma disputa de que Paulo tenha escrito pelo menos sete:[60]:p. 411

Epístola aos Hebreus, que foi atribuída a ele ainda na antiguidade, já era questionada na época, e atualmente não é considerada como tendo sido escrita por ele pela maior parte dos especialistas (veja Antilegomena). Há variados graus de disputa a respeito da autoria das demais epístolas.[61]

A autenticidade da Epístola aos Colossenses tem sido questionada[62] por conter uma descrição de Jesus não encontrada em nenhuma outra de Paulo, descrevendo-o como a "imagem do Deus invisível",[av] uma cristologia que só tem paralelo no Evangelho de João.[aw] Evidências internas demonstram uma conexão próxima com a Epístola aos Efésios,[63] que é muito similar a Colossenses (dos 155 versículos, 78 são idênticos[63]), mas quase sem referências pessoais. O estilo de Colossenses é único entre as epístolas paulinas, não se encontrando a ênfase na cruz que se vê nas demais e nem referência à Segunda vinda de Cristo, além de uma exaltação do casamento que contrasta com a encontrada em 1 Coríntios 7:8–9. Finalmente, segundo R.E. Brown, ela exalta a Igreja de uma forma que só se tornaria comum numa segunda geração de cristãos, "construída sobre a fundação deixada pelos apóstolos e profetas", já passada.[64] Os defensores da autoria paulina argumentam que ela foi escrita para ser lida uma quantidade grande de igrejas (daí a similaridade com Efésios) e marca um estágio final do desenvolvimento de Paulo de Tarso. Deve ser lembrado também que a porção moral da epístola, que é composta dos dois últimos capítulos, tem uma afinidade muito maior com os trechos equivalentes em outras epístolas enquanto que o restante casa perfeitamente com os detalhes que conhecemos sobre a vida de Paulo, dando-nos ainda mais pistas sobre ela.[63] Ela confirma, por exemplo, que ele estava preso quando a escreveu.[ax]

Paulo de Tarso.
Estátua na Praça de São Pedro, no Vaticano

As epístolas pastorais1 Timóteo2 Timóteo e Epístola a Tito também já tiveram a autoria questionada. As três principais razões são:

  • As diferenças em vocabulário, estilo e teologia em relação às demais obras de Paulo. Os defensores da autenticidade afirma que elas foram provavelmente escritas em nome do apóstolo sob sua autoridade por algum de seus discípulos, a quem ele teria explicado claramente o que deveria ser escrito, ou a quem ele havia passado um sumário por escrito dos pontos a serem desenvolvidos, e que, uma vez escritas, Paulo as teria lido, aprovado e assinado.[51]
  • A dificuldade de alinhá-las com a biografia conhecida de Paulo.[65] Estas epístolas, assim como as dirigidas aos Colossenses e aos Efésios, foram escritas no período em que Paulo estava preso, mas ao contrário delas, afirmam que o apóstolo foi solto e viajou depois disso. Os defensores argumentam que Paulo foi preso pela primeira vez não por algum crime contra os romanos, mas para salvá-lo da prisão. Em Filêmom, ele parece ter a esperança de ser libertado logo[ay] e haveria bastante tempo para ele ter visitado Creta e escrever as epístolas a Timóteo antes de sua segunda — e final — prisão pelos romanos.[51]
  • Finalmente, foram levantadas diversas objeções sobre o estado avançado da Igreja que a epístola deixa transparecer. Novamente, os defensores alegam que a epístola usa termos como "bispo", "diácono" e "padres" como sinônimos para indicar os que foram legados pelos apóstolos com a missão evangélica e não no sentido organizacional que termo viria a adquirir nos anos seguintes. Alegam também que se estas epístolas fossem mesmo, como alegam os críticos, uma defesa da sucessão apostólica pelos bispos, elas já deveriam ter sido atacadas como fraudes na antiguidade, argumenta que não encontra nenhum suporte evidencial.[51]

O principal argumento contra a autoria de Paulo da Segunda Epístola aos Tessalonicenses é que a sua escatologia parece contradizer a da Primeira Epístola aos Tessalonicenses.[66] Enquanto a primeira epístola parece indicar que a parousia é iminente,[az] na segunda ele a coloca num futuro desconhecido,[ba] o que implicaria num "erro" do apóstolo em uma epístola que, segundo os crentes, teve inspiração divina. A defesa principal é que a frase mais polêmica, «Então nós que estivermos vivos, e formos deixados, seremos arrebatados em nuvens[…]» (1 Tessalonicenses 4:17) teve tradução problemática já na Vulgata (em latimNos, qui vivimus, qui residui sumus).

Redenção

Ver artigo principal: Expiação

A teologia da redenção foi um dos principais assuntos abordados por Paulo.[67] Paulo ensinou que os cristãos foram redimidos da Lei Mosaica (veja supersessionismo) e do pecado pela morte de Jesus e sua ressurreição.[67] Sua morte foi uma expiação e, pelo sangue de Cristo, a paz foi estabelecida entre Deus e o homem.[67] Pelo batismo, um cristão toma sua parte na morte de Jesus e na sua vitória sobre a morte, recebendo, gratuitamente, uma renovada condição de filho de Deus.[67]

Paulo pregando em Atenas.
Pintura na parede do auditório Weise-Gymnasium, em Zittau, na Saxônia

Relação com o judaísmo

A teologia de Paulo sobre o evangelho acelerou a separação da seita messiânica dos cristãos do judaísmo, algo que Paulo não desejava. Ele escreveu que somente a fé em Cristo (como Messias) era suficiente e decisiva para a salvação, tanto de judeus quanto de gentios, tornando o cisma entre os cristãos e os judeus não só inevitável, mas permanente. Ele argumentou que os gentios convertidos não precisavam se tornar judeus ou ser circuncidados, nem tampouco seguir as leis alimentares.[6] Porém, em Romanos, ele insiste numa visão positiva do valor da Lei Mosaica como um guia moral.[bb]

Escatologia

De acordo com Ehrman, Paulo acreditava que Jesus iria retornar ainda durante a sua vida.[16] Ele afirma que Paulo acreditava que os cristãos que tinham morrido nesse meio tempo seriam ressuscitados para poder participar do Reino de Deus. Acreditava também, segundo ele, que os salvos seriam transformados e assumiriam formas sobrenaturais.[16]

O ensinamento de Paulo sobre o fim do mundo aparece muito claramente nas suas epístolas à igreja de Tessalônica. Muito perseguidos, é possível que eles tenham escrito para o apóstolo primeiro perguntando sobre os que já tinham morrido e sobre o que deveriam esperar no final. Paulo então os assegura que os mortos se levantarão primeiro e serão seguidos pelos que ainda estão vivos.[bc] Veja a discussão mais acima sobre as epístolas aos tessalonicenses, o que pode sugerir uma iminência do fim, mas ele não foi específico sobre a cronologia e encoraja seus ouvintes a terem paciência na epístola seguinte.[68] O final dos tempos será uma batalha entre Jesus e o "Homem da iniquidade",[bd] cuja conclusão será o triunfo final de Cristo.

Ícone de São Paulo no mosteiro de Spaso-Preobrazhensky, IaroslavlRússia

Papel das mulheres

Para uma discussão sobre uma mulher entre os apóstolos : Júnia

Um verso na Primeira Epístola a Timóteo,[be] tradicionalmente atribuída a Paulo (vide acima), é frequentemente utilizada como maior fonte de autoridade na bíblia para que às mulheres seja vedado o sacramento da ordem, além de outras posições de liderança e ministério no cristianismo. A Epístola a Timóteo é também muitas vezes utilizada por muitas igrejas para negar-lhes o voto em assuntos eclesiásticos e posições de ensino para público adulto e também a permissão para o trabalho missionário.[69]

9 Que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia, não com tranças , ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos,

10 Mas (como convém a mulheres que fazem profissão de servir a Deus) com boas obras.
11A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição,
12Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio,
13Pois primeiro foi formado Adão,depois Eva;
14E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão;
15Salvar-se-á, porém, dando à luz filhos, se permanecer com modéstia na fé, no amor e na santificaçao.

 

Esta passagem parece estar dizendo que as mulheres não devem ter na igreja nenhum papel de liderança frente aos homens.[70] Se ela também proíbe as mulheres de ensinar outras mulheres ou crianças é duvidoso, pois até mesmo as igrejas católicas - que proíbem o sacerdócio feminino — permitem que abadessas ensinem e assumam posições de liderança sobre outras mulheres. Qualquer interpretação desta parte das escrituras tem que se confrontar com as dificuldades teológicas, contextuais, sintáticas e léxicas destas poucas palavras.[71]

O teólogo J. R. Daniel Kirk encontrou um importante papel para as mulheres na igreja antiga, como por exemplo quando Paulo elogia Febe por seu trabalho como diaconisa[bf] e também Júnia,[bg] considerada por alguns como sendo a única mulher citada no Novo Testamento entre os apóstolos.[72][73]

A feminista Rosalind Miles, que chama a S. Paulo o "profeta incorrigível da inferioridade feminina", nota que as primeiras igrejas cristãs em Roma e noutros lugares foram casas doadas por viúvas abastadas, e todas as comunidades cristãs nos Actos dos Apóstolos são registadas como encontros sob o teto de uma mulher: "a igreja na casa de Chloe, na casa de Lydia, na casa de Maria, a mãe de Mark, na casa de Ninfa, na casa de Prisca" […] Nos seus dias pioneiros, nas comuns celebrações da Igreja, nada havia que uma mulher não pudesse fazer.[74]

Conversão no Caminho de Damasco, por Caravaggio, na Igreja de Santa Maria del Popolo de Roma

Daniel Kirk aponta para estudos recentes que levaram alguns a concluir que a passagem que obriga as mulheres a "ficarem caladas nas igrejas" em 1 Coríntios 14:34 foi uma adição posterior, aparentemente por um autor diferente e não era parte da carta original de Paulo à igreja de Corinto. Outros, como Giancarlo Biguzzi, alegam que a restrição de Paulo sobre as mulheres em Coríntios é genuína, mas aplica-se ao caso particular de proibi-las de fazerem perguntas ou de conversar, e não uma proibição generalizada contra as mulheres falarem, pois em 1 Coríntios 11:5 Paulo afirma o direito das mulheres de profetizar.[75]

O terceiro exemplo de Kirk de uma visão mais inclusiva está em «Não pode haver judeu nem grego, não pode haver escravo nem livre, não pode haver homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus» (Gálatas 3:28). Ao anunciar um fim dentro da igreja das divisões que eram tão comuns no mundo todo, ele conclui destacando que "[…] havia mulheres do Novo Testamento que ensinaram e tinham autoridade na igreja antiga e que estes ensinamentos e esta autoridade eram sancionadas por Paulo e que o apóstolo mesmo oferece um paradigma teológico dentro do qual a superação da subjugação da mulher é um resultado esperado".[76]

Influência no cristianismo

Ver artigo principal: Paulinismo

A influência de Paulo no pensamento cristão é possivelmente o mais importante dentre todos os outros autores do Novo Testamento. Paulo declarou que sua fé em Cristo tornou a Torá desnecessária para a salvação, exaltou a igreja cristã como sendo o corpo de Cristo e mostrou o mundo fora da igreja como estando sob julgamento.[6]

Tradição oriental

No oriente, os padres da Igreja reduziram a eleição divina presente Romanos 9:11 à onisciência de Deus e o tema da predestinação presente na teologia ocidental não aparece no oriente.[6]

Tradição ocidental

As obras fundamentais de Agostinho sobre a "boa nova" como um presente (graça), sobre a moralidade como a vida no Espírito, sobre a predestinação e sobre o pecado original se baseiam todas em Paulo, especialmente na Epístola aos Romanos.[6]

Durante a Reforma ProtestanteMartinho Lutero expressou a doutrina de Paulo sobre a fé como elemento mais importante como justi

Paulo de Tarso

 Nota: Este artigo é sobre o apóstolo São Paulo. Para outros significados, veja São Paulo (desambiguação).
São Paulo
São Paulo de Guercino
Apóstolo dos gentios e mártir
Nascimentoca. c. 5[1]
Tarso, na CilíciaImpério Romano[a]
Morte67 (62 anos)[2] :p. 411
Veneração porToda a cristandade
Principal temploBasílica de São Paulo Extramuros, na Via OstienseRoma
Festa litúrgica29 de junho (Festa de São Pedro e São Paulo[3]
25 de janeiro (Festa da Conversão de São Paulo)[4][5]
Atribuiçõeshomem segurando uma espada e um livro[3]
Padroeiroautores, imprensa, editoras, escritores,[3] São PauloMaltaRoma e Londres
PolêmicasControvérsia da circuncisão
 Portal dos Santos

Paulo[b] (nascido Saulo de Tarso;[c]Cilícia c. 5 – c. 67), comumente conhecido como Paulo de Tarso ou São Paulo, foi um dos mais influentes escritoresteólogos e pregadores do cristianismo, cujas obras compõem parte significativa do Novo Testamento. A influência que exerceu no pensamento cristão, chamada "paulinismo", foi fundamental por causa do seu papel como preeminente apóstolo do Cristianismo durante a propagação inicial do Evangelho pelo Império Romano. Paulo também exerce uma grande influência na filosofia cristã, tendo Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino usufruido de seu pensamento.[6][7][8]

Conhecido também como Saulo, se dedicava à perseguição dos primeiros discípulos de Jesus na região de Jerusalém.[d] De acordo com o relato na Bíblia, durante uma viagem entre Jerusalém e Damasco, numa missão para que, encontrando fiéis por lá, "os levasse presos a Jerusalém", Saulo teve uma visão de Jesus envolto numa grande luz, ficou cego, mas teve a visão recuperada após três dias por Ananias, que também o batizou. Começou então a pregar o Cristianismo.[e] Juntamente com Simão Pedro e Tiago, o Justo, ele foi um dos mais proeminentes líderes do nascente cristianismo.[9] Era também cidadão romano, o que lhe conferia uma situação legal privilegiada.[10] A questão de sua cidadania romana gera certa curiosidade. Paulo afirma em Atos 22, 28 ser romano "de nascimento". Tal declaração parece indicar que o apóstolo herdou essa posição de seu pai.[11]

Treze epístolas no Novo Testamento são atribuídas a Paulo, mas a sua autoria em sete delas é contestada por estudiosos modernos. Agostinho desenvolveu a ideia de Paulo que a salvação é baseada na fé e não nas "obras da Lei", vide Romanos 3:28. A interpretação de Martinho Lutero das obras de Paulo influenciou fortemente sua doutrina de sola fide.[6]

A conversão de Paulo mudou radicalmente o curso de sua vida. Com suas atividades missionárias e obras, Paulo acabou transformando as crenças religiosas e a filosofia de toda a região da bacia do Mediterrâneo. Sua liderança, influência e legado levaram à formação de comunidades dominadas por grupos gentios que adoravam o Deus de Israel, aderiam ao código moral judaico, mas que abandonaram o ritual e as obrigações alimentares da Lei Mosaica por causa dos ensinamentos de Paulo sobre a vida e obra de Jesus e seu "Novo Testamento", fundamentados na morte de Jesus e na sua ressurreição.[f]

Fontes de informação

Conversão do procônsul Sérgio Paulo, de quem Saulo pode ter tomado emprestado o nome.
Por Rafael, no Museu Vitória e Alberto, em Londres

A principal fonte para informações históricas sobre a vida de Paulo são as pistas encontradas em suas epístolas e nos Atos dos Apóstolos. Os Atos recontam a carreira de Paulo, mas deixam de fora diversas partes de sua vida, como a sua alegada execução em Roma.[6]

Estudiosos como Hans Conzelmann e o teólogo John Knox (não deve ser confundido com John Knox do século XVI), disputam a confiabilidade histórica dos Atos dos Apóstolos.[12][13] O relato do próprio Paulo sobre seu passado está principalmente na Epístola aos Gálatas. De acordo com alguns acadêmicos, o relato da visita de Paulo a Jerusalém em Atos 11 contradiz o relato nas epístolas paulinas.[6] Outros consideram o relato de Paulo nas epístolas como sendo mais confiável do que os encontrados nos "Atos".[2]:p. 316-320

Nomes

O nome original de Paulo era "Saulo" (em hebraicoשָׁאוּלSha'ultiberiano: Šāʼûl - "o que se pediu, o que se orou por" e traduzido em grego clássicoΣαούλ - Saul - ou Σαῦλος - Saulos),[14][15] nome que divide com o bíblico rei Saul, um outro benjaminita e primeiro rei de Israel, que foi sucedido pelo rei Davi, da tribo de Judá.[10][16] Segundo suas próprias palavras, era um fariseu.[g]

O uso de "Paulo" (em gregoΠαῦλος - Paulos; em latimPaulus ou Paullus - "baixo"; "curto"[17]) aparece nos "Atos" pela primeira vez quando ele começou sua primeira jornada missionária em território desconhecido. Em Atos 13:6–13, Paulo aparece, juntamente com Barnabé e João Marcos, conversando com Sérgio Paulo, um oficial romano em Chipre que será convertido por ele. Paulus era um sobrenome romano e alguns argumentam que Paulo o adotou como seu primeiro nome.[18] Outra teoria, apontada pelo Vaticano, afirma que era costume para os judeus romanizados da época adotarem um nome romano e o pai de Paulo provavelmente quis agradar à família dos Pauli.[19] Por fim, há ainda os que consideram possível a homenagem a Sérgio Paulo e mais provável que a mudança esteja mais relacionada a um desejo do apóstolo em se distanciar da história do Rei Saul, que perseguiu Davi.[20]

Antes da conversão

Em "Atos dos Apóstolos", Paulo afirma ter nascido em Tarso (na província de Mersin, na parte meridional da Turquia central) e faz breves menções à sua família. Um sobrinho é mencionado em Atos 23, 16 e sua mãe é citada entre os que moram em Roma em Romanos 16:13. É ali também que o apóstolo confessa que «Saulo assolava a igreja, entrando pelas casas e, arrastando homens e mulheres, os entregava à prisão.» (Atos 8:3).[h]

Mesmo tendo nascido em Tarso, foi criado em Jerusalém, "aos pés de Gamaliel",[i] que é considerado um dos maiores professores nos anais do judaísmo e cujo equilibrado conselho (Atos 5:34–39), pedindo que os judeus contivessem a fúria contra os discípulos, contrasta com a temeridade de seu estudante que, após a morte de Estêvão, saiu num rompante perseguindo os "santos".[j]

Conversão e a sua missão

Ver artigo principal: Conversão do apóstolo Paulo
Conversão de Saulo em Damasco, na Síria

A conversão de Paulo pode ser datada entre os anos de 31 e 36[21][22][23] pela referência que ele fez em uma de suas epístolas.[6] De acordo com os "Atos dos Apóstolos", sua conversão (metanoia) ocorreu na "estrada para Damasco", onde ele afirmou ter tido uma visão de Jesus ressuscitado que o deixou temporariamente cego.[k]

Testemunho pós-conversão

Nos versículos iniciais da Epístola aos Romanos, Paulo nos dá uma litania de sua própria alegação apostólica e de suas convicções pós-conversão sobre a ressurreição de Cristo.

Os seus próprios textos nos dão alguma ideia sobre o que ele pensava de sua relação com o Judaísmo. Se por um lado se mostrava crítico, tanto teologicamente quanto empiricamente, das alegações de superioridade moral ou de linhagem dos judeus,[l] por outro defendia fortemente a noção de um lugar especial reservado aos filhos de Israel.[m]

Ele ainda afirmou que recebeu as "boas novas" não de qualquer um, mas por uma revelação pessoal de Jesus Cristo.[n] Por isso, ele se entendia independente da comunidade de Jerusalém[2]:p. 316 - 320 (possivelmente no Cenáculo), embora alegasse sua concordância com ela no que tangia ao conteúdo do Evangelho.[o] O que é mais impressionante nessa conversão é a mudança na forma de pensar que ocorreu. Ele teve que mudar seu conceito sobre quem o Messias era e, particularmente, aceitar a ideia, então absurda, de um Messias crucificado. Ou talvez o mais difícil tenha sido a mudança de seus conceitos sobre a superioridade dos judeus. Ainda há debates sobre se Paulo já se considerou como o veículo de evangelização dos gentios no momento de sua conversão ou se isto se deu mais tarde.[24]

Batismo de Paulo por Ananias na casa de Ananias, em Damasco, na Síria

Primeiros anos de ministério

Após a sua conversão, Paulo foi para Damasco, onde os "Atos" afirmam que foi curado de sua cegueira e batizado por Ananias de Damasco.[25] Paulo afirma em 2 Coríntios 11:32 que foi em Damasco que ele escapou por pouco da morte, indo em seguida primeiro para a Arábia e depois de volta para Damasco.[p][26] Esta viagem de Paulo para a Arábia não é mencionada em nenhum outro lugar no Novo Testamento e alguns autores acreditam que ele tenha na realidade viajado até o Monte Sinai para meditar no deserto.[27][28] Ele descreve em Gálatas como, três anos após a sua conversão, ele viajou para Jerusalém, onde se encontrou com Tiago, o Justo, e ficou com Simão Pedro por 15 dias.[q]

A narrativa em Gálatas continua afirmando que, quatorze anos após a sua conversão, ele foi de novo a Jerusalém.[r] Não se sabe exatamente o que aconteceu neste período, conhecido como "anos desconhecidos", mas tanto os Atos quanto os Gálatas nos dão algumas pistas.[29] Ao final deste período, Barnabé foi ao encontro de Paulo e o trouxe de volta para Antioquia.[s] O autor F. F. Bruce sugeriu que os quatorze anos podem ser contados a partir da conversão de Paulo ao invés de sua primeira visita a Jerusalém.[30]

Quando uma grande fome ocorreu na Judeia,[31] Paulo e Barnabé viajaram para Jerusalém para entregar a ajuda financeira da igreja de Antioquia.[32] De acordo com os Atos, Antioquia já tinha se tornado um centro importante para os fiéis após a dispersão dos crentes que se seguiu ao martírio de Estêvão[2] e foi lá que os seguidores de Jesus foram, pela primeira vez, chamados cristãos.[s]

Primeira viagem missionária

Primeira viagem

Nos Atos, relatam-se três viagens de Paulo: a primeira, liderada primeiro por Barnabé, levou Paulo de Antioquia até Chipre, passando depois pela Ásia Menor (Anatólia) e de volta a Antioquia. Em Chipre, Paulo enfrenta e cega Elimas, o mago, que estava criticando seus ensinamentos ao procônsul Sérgio Paulo. Deste ponto em diante, passa a ser chamado Paulo e aparece como o líder do grupo.[33] Quando chegaram em PergeJoão Marcos, que acompanhava o grupo, voltou para Jerusalém e os dois foram para Antioquia na Pisídia, Paulo profere um longo discurso e converte muitos, mas o grupo acaba expulso da cidade (Atos 13). Em Icônio, foram novamente expulsos e seguiram para Listra, onde foram confundidos com os deuses romanos Júpiter e Mercúrio depois que Paulo curou um coxo. Por conta da intriga dos judeus, Paulo foi preso e apedrejado, mas sobreviveu e, com Barnabé, seguiu para Derbe. De lá, retornaram passando novamente pelas mesmas cidades para reforçar as comunidades recém-fundadas e terminaram a viagem em Antioquia (Atos 14).

Segunda viagem missionária

Segunda viagem

Concílio de Jerusalém

Paulo partiu para sua segunda viagem de Jerusalém, onde estava sendo realizado o concílio com os outros apóstolos no qual a obrigatoriedade da circuncisão foi retirada. A maior parte dos acadêmicos concorda que houve uma reunião vital entre Paulo e a igreja de Jerusalém em algum momento entre os anos de 48 e 50,[6] descrita em Atos 15:2 e geralmente entendido como o mesmo evento mencionado por Paulo em Gálatas 2:1.[6] A principal questão discutida ali foi se os gentios convertidos precisavam ou não ser circuncidados, conforme o relato nos Atos e em Gálatas. Paulo alega em sua epístola que terá sido neste encontro que Pedro, Tiago e João aceitaram a missão de Paulo aos gentios.[34]

Com o objetivo de levar a Antioquia o resultado do concílio, os fiéis realizaram uma eleição para escolher dois mensageiros que acompanhariam Paulo e Barnabé nessa missão. Os eleitos então foram Silas e Judas, "chamado Barsabá".[t]

Paulo, Barnabé, Judas e Silas partiram então de Jerusalém levando os decretos dos apóstolos aos fiéis em Antioquia e nas províncias romanas da Síria e Cilícia. Chegando a Antioquia, eles cumprem a missão que lhes foi dada, sendo que Judas retorna para Jerusalém e desaparece da história, enquanto Silas permanece na cidade.[u]

Paulo e Barnabé em Listra.
Por Nicolaes Berchem, 1650. Atualmente no Musée d'Art et d'Industrie, em Saint-Étienne, na França

Paulo e Silas

Em Antioquia, Paulo e Barnabé tiveram uma dura discussão sobre se deveriam levar João Marcos com eles. Em Atos 13, é mencionado que o menino já os tinha deixado em uma viagem anterior para retornar para casa. Paulo acreditava que ele ainda não estava pronto para este tipo de evangelização e, por isso, ele e Barnabé decidiram se separar. Barnabé acabou levando João Marcos consigo para Chipre e Silas se juntou a Paulo.[35]

Paulo e Silas viajaram para diversas cidades diferentes, como Tarso, Derbe e Listra (todas na Ásia Menor). Nesta última, eles encontraram Timóteo, um discípulo que tinha uma boa reputação, e decidiram levá-lo com eles. Em Filipos (na Grécia), uma multidão incitada por homens insatisfeitos com o exorcismo de uma escrava que dava muitos lucros aos seus patrões com suas adivinhações, se insurgiu contra os missionários, açoitando e prendendo Paulo e Silas. Após um milagroso terremoto, os portões da prisão se abriram e os dois puderam escapar, o que levou por sua vez à conversão do carcereiro.[v] Eles seguem então para Bereia, de onde Paulo segue para Atenas, deixando ali Silas e Timóteo.[w] Na capital grega, Paulo prega no Areópago contra os muitos ídolos que encontra, converte Dionísio, o Areopagita e parte.[x]

Por volta de 50 a 52, Paulo passou 18 meses em Corinto, onde reencontrou Timóteo e Silas. A referência nos Atos ao procônsul Gálio permite inferir a data (vide Inscrição de Gálio). Lá ele trabalhou com Silas e Timóteo[6] e conheceu Priscila e Áquila, que se tornaram fiéis crentes e ajudaram Paulo em suas viagens missionárias. A dupla seguiu Paulo e seus companheiros até Éfeso e o grupo permaneceu ali para iniciar aquela que seria a mais forte e fiel igreja cristã daquele tempo, um importante centro da cristandade a partir do ano 50. Em 52, Partiu para Cesareia Marítima, passou por Jerusalém e finalmente chegou em Antioquia.[35]

Terceira viagem missionária

Terceira viagem

Paulo iniciou sua terceira viagem missionária passando por toda a região da Galácia e da Frígia para reforçar a fé e ensinar para os fiéis, além de repreender os que estavam em erro. Quando chegou em Éfeso, ficou ali por pouco menos de três meses e realizou uma série de milagres, como curas e exorcismos. Depois de provocar uma revolta na cidade, o apóstolo seguiu para a Macedônia,[36] passando novamente por Corinto, onde permaneceu por três meses. Quando ele estava pronto para retornar para a Síria, mudou de ideia por conta de um plano que os judeus tinham feito contra sua vida, voltando então para a Macedônia e dali seguiu para a Trôade, onde ressuscitou o jovem Êutico depois de ele ter caído três andares e ter sido «levantado morto» (Atos 20:9).[37] A viagem de Paulo, que pretendia chegar em Jerusalém para celebrar o Pentecostes (entre maio e junho), continuou passando por AssosMitileneQuiosSamos e Mileto (Atos 20). A dura jornada passou ainda por CósRodes e Patara, onde Paulo embarca num navio com destino à Tiro, na Fenícia. Depois de sete dias na cidade, o grupo de Paulo segue para Ptolemaida, Cesareia, onde visitaram Filipe, o Evangelista, e finalmente Jerusalém (Atos 21).

Embora Paulo tenha escrito sobre uma visita que fez a Ilíria, ele estava se referindo ao que hoje chamamos Ilíria Grega,[38] parte da província romana da Macedônia, onde hoje é atualmente a Albânia.[39]

Viagem a Roma

Ver artigo principal: Atos 27
Estátua de São Paulo na Basílica de Nossa Senhora da Assunção do Mosteiro de São Bento (São Paulo) na cidade de São Paulo, Brasil

Paulo e seus companheiros seguiram então para Roma, naquela que foi provavelmente a última das viagens missionárias, em 60. A viagem começou em Jerusalém, onde os irmãos foram recebidos em festa. Lá, Paulo foi espancado e quase morto, preso e enviado para Cesareia Marítima, onde esteve detido durante aproximadamente um ano e meio. Foi transferido para Roma depois de apelar a César, um direito que tinha por ser cidadão romano, ao perceber que não receberia julgamento justo de seu povo. Paulo passou então a pregar na capital imperial.[40]

O Incidente em Antioquia

Ver artigos principais: Incidente em Antioquia e Epístola aos Gálatas

Apesar do acordo encontrado no Concílio de Jerusalém, como tinha entendido Paulo, o apóstolo relata como ele depois confrontou publicamente Pedro, no que ficou conhecido como "Incidente em Antioquia", por causa da relutância dele em realizar suas refeições com os cristãos gentios em Antioquia.[41]

Escrevendo depois sobre o incidente, relata ter dito a Pedro e os demais presentes «Se tu, sendo judeu, vives como gentio, e não como judeu, como obrigas os gentios a viver como os judeus?» (Gálatas 2:11–14). Paulo também menciona que até mesmo Barnabé, seu companheiro de viagem até aquele momento, ficou do lado de Pedro.[41][y]

O resultado final do incidente permanece incerto. A Enciclopédia Católica afirma que "o relato de Paulo sobre o incidente não deixa dúvidas de que Pedro viu justiça na reprimenda". Em contraste, a obra "From Jesus to Christianity", de L. Michael White, alega que "o confronto com Pedro foi uma falha completa, uma bravata política, e Paulo logo deixou Antioquia como persona non grata para nunca mais voltar".[42]

Visitas a Jerusalém nos Atos e nas Epístolas

Esta tabela foi adaptada da obra de White, From Jesus to Christianity.[34] Este pareamento entre as viagens de Paulo como narradas nos Atos e nas Epístolas não é consenso entre os acadêmicos.

Atos dos ApóstolosEpístolas
  • Primeira visita a Jerusalém[z]
    • "Decorridos muitos dias" da conversão em Damasco
    • Prega abertamente em Jerusalém com Barnabé
    • Encontra os apóstolos
  • Primeira visita a Jerusalém[aa]
    • Três anos após a conversão de Damasco
    • Vê apenas Pedro (Cefas) e Tiago
  • Segunda visita a Jerusalém[ab]
    • Levando a ajuda financeira por conta da fome
  • Há um debate sobre se a viagem de Paulo em Gálatas 2 se refere à visita para ajudar na fome ou sobre o Concílio de Jerusalém. Se for à primeira, então esta é a visita feita.[ac]
  • Terceira visita a Jerusalém[ad]
    • com Barnabé
    • "Concílio de Jerusalém"
    • Seguida pelo confronto com Barnabé em Antioquia sobre João Marcos[ae]
  • Outra [af] visita a Jerusalém[r]
    • 14 anos depois (após a conversão de Damasco?)
    • Com Barnabé e Tito
    • possivelmente o "Concílio de Jerusalém"
    • Paulo concorda em "se lembrar dos pobres"
    • Seguida pela confrontação com Pedro e Barnabé em Antioquia[ag]
  • Quarta visita a Jerusalém[ah]
    • Para cumprimentar a igreja
  • Aparentemente não é mencionada.
  • Quinta visita a Jerusalém[ai]
    • Após uma ausência de muitos anos[aj]
    • Para "trazer esmolas à minha nação, e fazer oferenda"
    • Paulo é preso
  • Outra[ak] visita a Jerusalém[al]
    • Para "trazer esmolas"

Prisão e morte

Tiago, irmão de Jesus,[am] líder dos cristãos de Jerusalém, que avisou Paulo sobre os riscos de pregar contra a Torá em Jerusalém.[6]

Paulo chegou a Jerusalém em 57 com uma coleta de dinheiro que tinha feito para a comunidade local[6] e, segundo Atos, ele foi recebido calorosamente. Porém, o relato continua afirmando que ele foi interrogado por Tiago por ensinar a «[…] todos os judeus que estão entre os gentios a apostatarem de Moisés, dizendo-lhes que não circuncidem seus filhos nem andem segundo os nossos ritos» (Atos 21:22). Paulo então realizou um ritual de purificação para não dar aos judeus nenhum motivo para acusá-lo por não seguir os mandamentos da Lei.[6]

Paulo porém continuava a pregar contra a circuncisão, contra as restrições alimentares e contra os requerimentos da Torá e isto provocou o rompimento final com os judeus. Paulo causou um alvoroço ao aparecer no Templo e somente escapou da morte por ter sido preso. Ele foi então mantido prisioneiro por dois anos em Cesareia até que um novo governador reabrisse seu caso em 59. Quando Paulo foi acusado de traição apelou ao César, alegando seu direito, como cidadão romano, de ser levado a um tribunal apropriado e de se defender das acusações.[6]

Atos 28:1 relata que no caminho para Roma, Paulo sofreu um naufrágio em "Melite" (Malta),[6] onde ele se encontrou com Públio[an] e foi recebido pelos habitantes da ilha com "muita humanidade".[ao] Ele chegou a Roma por volta do ano 60 e passou mais dois anos em prisão domiciliar.[ap] Contando esta vez, Paulo passou entre cinco e seis anos preso em celas ou prisioneiro em casa.

Ireneu de Lyon acreditava que Pedro e Paulo tinham sido os fundadores da Igreja de Roma, sendo eles a nominarem São Lino como bispo e sucessor:

[…] Igreja fundada e organizada em Roma pelos dois mais gloriosos apóstolos, Pedro e Paulo; também [ensinando] a fé pregada aos homens, que chegou aos nossos dias através da sucessão dos bispos[…] .Os abençoados apóstolos, então, tendo fundado e abençoado a Igreja, entregaram nas mãos de Lino o episcopado.
 

Paulo, porém, não foi bispo de Roma e nem levou o cristianismo para lá, pois já havia cristãos em Roma quando ele chegou lá.[aq] É evidente também que Paulo já tinha escrito uma epístola para a Igreja de Roma antes de ter visitado a cidade.[ar] Porém, Paulo pode ter tido um importante papel na formação da Igreja na capital romana.

Tradição sobre a morte de Paulo

Decapitação de São Paulo.
Por Enrique Simonet, 1887
Ver artigo principal: Santa Tradição

Nem a Bíblia e nem outra história qualquer conta explicitamente como ou quando Paulo morreu. De acordo com a tradição cristã, Paulo foi decapitado em Roma durante o reino do imperador Nero em meados dos anos 60 na Abadia das Três Fontes (em italianoTre Fontane).[44] O tratamento mais "humano" dado a Paulo, em contraste com a crucificação invertida de São Pedro, foi graças à sua cidadania romana.[45]

Vários autores cristãos da Antiguidade já propuseram mais detalhes sobre a morte de Paulo. I Clemente, uma carta escrita pelo bispo de Roma, Clemente, por volta do ano 90 relata o seguinte sobre Paulo:[46]

"Por causa de inveja e brigas, Paulo, pelo exemplo, mostrou a recompensa da resistência paciente. Após ele ter sido preso por sete vezes, ter sido exilado, apedrejado e ter pregado no ocidente e no oriente, ele recebeu o reconhecimento que era o prêmio da sua fé, tendo ensinado a retidão para o mundo inteiro e tendo chegado aos confins do ocidente. E quando ele já tinha dado seu testemunho perante os governantes, partiu deste mundo e foi para um lugar sagrado, tendo encontrado um notável padrão de resistência paciente.
 
— I Clemente, Clemente de Roma.
Basílica de São Paulo Extramuros com a estátua de Paulo na frente. Na basílica encontram-se as alegadas relíquias do apóstolo.
Em Roma

Comentando sobre esta passagem, Raymond Brown escreve que, ainda que ela não afirme categoricamente que Paulo foi martirizado em Roma, "[…] algo assim é a mais provável interpretação".[47]

Eusébio de Cesareia, que escreveu no século IV, afirma que Paulo foi decapitado durante o reino do imperador romano Nero.[48] Este evento tem sido datado ou no ano de 64, quando Roma foi devastada por um incêndio, ou alguns anos depois, em 67. A festa de São Pedro e São Paulo, da Igreja Católica, é comemorada em 29 de junho, o que pode refletir uma data tradicional para o seu martírio. Outras fontes também apontaram uma tradição de que Pedro e Paulo teriam morrido no mesmo dia (e, possivelmente, no mesmo ano).[49]

apócrifo Atos de Pedro sugere que Paulo sobreviveu a Roma e viajou para o oeste, para a Hispânia.[50] Alguns mantêm o ponto de vista que ele poderia ter visitado a Grécia e a Ásia Menor após a sua viagem à Hispânia e que ele pode ter sido finalmente preso em Troas e enviado a Roma para ser executado[51] (veja-se a discussão acima sobre as epístolas a Timóteo).

Túmulo e relíquias

A tradição cristã mantém que Paulo foi enterrado com São Pedro "Próximo as Catacumbas" (ad Catacumbas) na Via Ápia e lá permaneceu até seu corpo ser levado para a Basílica de São Paulo Extramuros, em Roma. O venerável Beda, em sua História Eclesiástica do Povo Inglês, escreveu que o papa Vitaliano, em 665, deu algumas relíquias de Paulo (incluindo a cruz feita com as correntes que o prenderam) ao rei Osvio da Nortúmbria, no norte da Inglaterra.[52]

Ainda segundo a tradição, o túmulo de Paulo estaria localizado na Basílica de São Paulo Extramuros, em Roma.[53] Escavações foram realizadas conforme o relato feito em um comunicado da Agência Católica Internacional de Imprensa (APIC - Agence de Presse Internationale Catholique), de 17 de fevereiro de 2005:[54]

Um sarcófago que pode conter as relíquias do apóstolo Paulo foi identificado na Basílica de São Paulo Extra-Muros, de acordo com Giorgio Filippi, chefe do departamento epigráfico do Museu do Vaticano.

Sob o altar elevado, está uma laje de mármore do século IV, que sempre esteve visível, contém uma inscrição PAULO APOSTOLO MART (Paulo Apóstolo Mártir). A placa tem três furos e provavelmente está relacionada com o culto funerário de São Paulo. De acordo com Giorgio Filippi, esses buracos foram usados para a "criação de relíquias" por meio de simples contato com o túmulo do apóstolo.
Ao longo da Via Ostiense, um santuário foi erguido sobre o túmulo do apóstolo Paulo ainda no século I Como já fizera com São Pedro, o imperador romano Constantino, começou, no início do século IV, a construir uma basílica para abrigar o túmulo. Então, em 386, meio século após a do imperador e por conta do afluxo de peregrinos, uma basílica ainda maior foi construída por ordem dos imperadores Valentiniano IITeodósio I e Arcádio.

 
— Agência Católica Internacional de Imprensa[54].

Em junho de 2009 o papa Bento XVI anunciou os resultados das escavações ali realizadas. O sarcófago em si não foi aberto, mas foi examinado por meio de uma sonda e revelou pedaços de incenso e de linho, azul e púrpura, assim como pequenos fragmentos de osso, que foram datados por radiocarbono como sendo do século I ou II. De acordo com o Vaticano, isto é uma evidência a favor da tradição de que ali está efetivamente o túmulo de Paulo.[55]

Obras

Epístola aos Gálatas.
Novo Testamento de 1524
Ver artigo principal: Epístolas paulinas

Quatorze epístolas do Novo Testamento são atribuídas a Paulo, das quais sete têm a autoria quase que universalmente aceita, enquanto as outras sete são disputadas: EfésiosColossenses2 Tessalonicenses1 TimóteoTito e Hebreus. Destas, quatro são consideradas como sendo de outro autor que não Paulo por razões textuais e gramaticais, enquanto que as outras três são disputadas por alguns acadêmicos.[56] Paulo aparentemente ditou todas as suas epístolas (exceto Gálatas) através de um secretário (ou amanuense), que geralmente parafraseava o tom de sua mensagem, como era a prática entre os escribas do século I.[2] :316-320[57]

Estas epístolas circularam entre as comunidades cristãs e eram lidas em público por membros da igreja, juntamente com outras obras.[58] Elas foram citadas ainda no século I, por volta de 96, por Clemente de Roma em sua epístola Clemente aos Coríntios.[46]

Atribuição de suas obras

Paulo escrevendo suas epístolas.
Valentin de Boulogne ou Nicolas Tournierséculo XVI, atualmente na Blaffer Foundation Collection, HoustonTexas

As epístolas paulinas foram na sua maioria escritas para igrejas que Paulo visitou e o apóstolo era um grande viajante. Ele passou por Chipre, por toda a Ásia Menor, pela GréciaCreta e Roma. Elas estão repletas de exposições sobre o que os cristãos deveriam acreditar e como deveriam viver, ao passo que ele não relata ao destinatário (e aos leitores modernos) muito sobre a vida de Jesus. Suas mais explícitas referências são passagens sobre a Última Ceia[as] e a crucificação e ressurreição.[at] As referências aos ensinamentos de Jesus são também esparsos,[au] levantando a questão, ainda em disputa, sobre o quão consistente é seu relato sobre a fé com o que está nos quatro evangelhos canônicos, os Atos e a Epístola de Tiago. O ponto de vista de que o Cristo de Paulo é diferente do Jesus histórico foi proposta pelo teólogo Adolf von Harnack.[59] De toda maneira, ele nos dá o primeiro relato escrito do que é ser cristão e da espiritualidade cristã.

Das catorze cartas atribuídas a Paulo e incluídas no cânone do Novo Testamento, há pouca ou nenhuma disputa de que Paulo tenha escrito pelo menos sete:[60]:p. 411

Epístola aos Hebreus, que foi atribuída a ele ainda na antiguidade, já era questionada na época, e atualmente não é considerada como tendo sido escrita por ele pela maior parte dos especialistas (veja Antilegomena). Há variados graus de disputa a respeito da autoria das demais epístolas.[61]

A autenticidade da Epístola aos Colossenses tem sido questionada[62] por conter uma descrição de Jesus não encontrada em nenhuma outra de Paulo, descrevendo-o como a "imagem do Deus invisível",[av] uma cristologia que só tem paralelo no Evangelho de João.[aw] Evidências internas demonstram uma conexão próxima com a Epístola aos Efésios,[63] que é muito similar a Colossenses (dos 155 versículos, 78 são idênticos[63]), mas quase sem referências pessoais. O estilo de Colossenses é único entre as epístolas paulinas, não se encontrando a ênfase na cruz que se vê nas demais e nem referência à Segunda vinda de Cristo, além de uma exaltação do casamento que contrasta com a encontrada em 1 Coríntios 7:8–9. Finalmente, segundo R.E. Brown, ela exalta a Igreja de uma forma que só se tornaria comum numa segunda geração de cristãos, "construída sobre a fundação deixada pelos apóstolos e profetas", já passada.[64] Os defensores da autoria paulina argumentam que ela foi escrita para ser lida uma quantidade grande de igrejas (daí a similaridade com Efésios) e marca um estágio final do desenvolvimento de Paulo de Tarso. Deve ser lembrado também que a porção moral da epístola, que é composta dos dois últimos capítulos, tem uma afinidade muito maior com os trechos equivalentes em outras epístolas enquanto que o restante casa perfeitamente com os detalhes que conhecemos sobre a vida de Paulo, dando-nos ainda mais pistas sobre ela.[63] Ela confirma, por exemplo, que ele estava preso quando a escreveu.[ax]

Paulo de Tarso.
Estátua na Praça de São Pedro, no Vaticano

As epístolas pastorais1 Timóteo2 Timóteo e Epístola a Tito também já tiveram a autoria questionada. As três principais razões são:

  • As diferenças em vocabulário, estilo e teologia em relação às demais obras de Paulo. Os defensores da autenticidade afirma que elas foram provavelmente escritas em nome do apóstolo sob sua autoridade por algum de seus discípulos, a quem ele teria explicado claramente o que deveria ser escrito, ou a quem ele havia passado um sumário por escrito dos pontos a serem desenvolvidos, e que, uma vez escritas, Paulo as teria lido, aprovado e assinado.[51]
  • A dificuldade de alinhá-las com a biografia conhecida de Paulo.[65] Estas epístolas, assim como as dirigidas aos Colossenses e aos Efésios, foram escritas no período em que Paulo estava preso, mas ao contrário delas, afirmam que o apóstolo foi solto e viajou depois disso. Os defensores argumentam que Paulo foi preso pela primeira vez não por algum crime contra os romanos, mas para salvá-lo da prisão. Em Filêmom, ele parece ter a esperança de ser libertado logo[ay] e haveria bastante tempo para ele ter visitado Creta e escrever as epístolas a Timóteo antes de sua segunda — e final — prisão pelos romanos.[51]
  • Finalmente, foram levantadas diversas objeções sobre o estado avançado da Igreja que a epístola deixa transparecer. Novamente, os defensores alegam que a epístola usa termos como "bispo", "diácono" e "padres" como sinônimos para indicar os que foram legados pelos apóstolos com a missão evangélica e não no sentido organizacional que termo viria a adquirir nos anos seguintes. Alegam também que se estas epístolas fossem mesmo, como alegam os críticos, uma defesa da sucessão apostólica pelos bispos, elas já deveriam ter sido atacadas como fraudes na antiguidade, argumenta que não encontra nenhum suporte evidencial.[51]

O principal argumento contra a autoria de Paulo da Segunda Epístola aos Tessalonicenses é que a sua escatologia parece contradizer a da Primeira Epístola aos Tessalonicenses.[66] Enquanto a primeira epístola parece indicar que a parousia é iminente,[az] na segunda ele a coloca num futuro desconhecido,[ba] o que implicaria num "erro" do apóstolo em uma epístola que, segundo os crentes, teve inspiração divina. A defesa principal é que a frase mais polêmica, «Então nós que estivermos vivos, e formos deixados, seremos arrebatados em nuvens[…]» (1 Tessalonicenses 4:17) teve tradução problemática já na Vulgata (em latimNos, qui vivimus, qui residui sumus).

Redenção

Ver artigo principal: Expiação

A teologia da redenção foi um dos principais assuntos abordados por Paulo.[67] Paulo ensinou que os cristãos foram redimidos da Lei Mosaica (veja supersessionismo) e do pecado pela morte de Jesus e sua ressurreição.[67] Sua morte foi uma expiação e, pelo sangue de Cristo, a paz foi estabelecida entre Deus e o homem.[67] Pelo batismo, um cristão toma sua parte na morte de Jesus e na sua vitória sobre a morte, recebendo, gratuitamente, uma renovada condição de filho de Deus.[67]

Paulo pregando em Atenas.
Pintura na parede do auditório Weise-Gymnasium, em Zittau, na Saxônia

Relação com o judaísmo

A teologia de Paulo sobre o evangelho acelerou a separação da seita messiânica dos cristãos do judaísmo, algo que Paulo não desejava. Ele escreveu que somente a fé em Cristo (como Messias) era suficiente e decisiva para a salvação, tanto de judeus quanto de gentios, tornando o cisma entre os cristãos e os judeus não só inevitável, mas permanente. Ele argumentou que os gentios convertidos não precisavam se tornar judeus ou ser circuncidados, nem tampouco seguir as leis alimentares.[6] Porém, em Romanos, ele insiste numa visão positiva do valor da Lei Mosaica como um guia moral.[bb]

Escatologia

De acordo com Ehrman, Paulo acreditava que Jesus iria retornar ainda durante a sua vida.[16] Ele afirma que Paulo acreditava que os cristãos que tinham morrido nesse meio tempo seriam ressuscitados para poder participar do Reino de Deus. Acreditava também, segundo ele, que os salvos seriam transformados e assumiriam formas sobrenaturais.[16]

O ensinamento de Paulo sobre o fim do mundo aparece muito claramente nas suas epístolas à igreja de Tessalônica. Muito perseguidos, é possível que eles tenham escrito para o apóstolo primeiro perguntando sobre os que já tinham morrido e sobre o que deveriam esperar no final. Paulo então os assegura que os mortos se levantarão primeiro e serão seguidos pelos que ainda estão vivos.[bc] Veja a discussão mais acima sobre as epístolas aos tessalonicenses, o que pode sugerir uma iminência do fim, mas ele não foi específico sobre a cronologia e encoraja seus ouvintes a terem paciência na epístola seguinte.[68] O final dos tempos será uma batalha entre Jesus e o "Homem da iniquidade",[bd] cuja conclusão será o triunfo final de Cristo.

Ícone de São Paulo no mosteiro de Spaso-Preobrazhensky, IaroslavlRússia

Papel das mulheres

Para uma discussão sobre uma mulher entre os apóstolos : Júnia

Um verso na Primeira Epístola a Timóteo,[be] tradicionalmente atribuída a Paulo (vide acima), é frequentemente utilizada como maior fonte de autoridade na bíblia para que às mulheres seja vedado o sacramento da ordem, além de outras posições de liderança e ministério no cristianismo. A Epístola a Timóteo é também muitas vezes utilizada por muitas igrejas para negar-lhes o voto em assuntos eclesiásticos e posições de ensino para público adulto e também a permissão para o trabalho missionário.[69]

9 Que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia, não com tranças , ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos,

10 Mas (como convém a mulheres que fazem profissão de servir a Deus) com boas obras.
11A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição,
12Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio,
13Pois primeiro foi formado Adão,depois Eva;
14E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão;
15Salvar-se-á, porém, dando à luz filhos, se permanecer com modéstia na fé, no amor e na santificaçao.

 

Esta passagem parece estar dizendo que as mulheres não devem ter na igreja nenhum papel de liderança frente aos homens.[70] Se ela também proíbe as mulheres de ensinar outras mulheres ou crianças é duvidoso, pois até mesmo as igrejas católicas - que proíbem o sacerdócio feminino — permitem que abadessas ensinem e assumam posições de liderança sobre outras mulheres. Qualquer interpretação desta parte das escrituras tem que se confrontar com as dificuldades teológicas, contextuais, sintáticas e léxicas destas poucas palavras.[71]

O teólogo J. R. Daniel Kirk encontrou um importante papel para as mulheres na igreja antiga, como por exemplo quando Paulo elogia Febe por seu trabalho como diaconisa[bf] e também Júnia,[bg] considerada por alguns como sendo a única mulher citada no Novo Testamento entre os apóstolos.[72][73]

A feminista Rosalind Miles, que chama a S. Paulo o "profeta incorrigível da inferioridade feminina", nota que as primeiras igrejas cristãs em Roma e noutros lugares foram casas doadas por viúvas abastadas, e todas as comunidades cristãs nos Actos dos Apóstolos são registadas como encontros sob o teto de uma mulher: "a igreja na casa de Chloe, na casa de Lydia, na casa de Maria, a mãe de Mark, na casa de Ninfa, na casa de Prisca" […] Nos seus dias pioneiros, nas comuns celebrações da Igreja, nada havia que uma mulher não pudesse fazer.[74]

Conversão no Caminho de Damasco, por Caravaggio, na Igreja de Santa Maria del Popolo de Roma

Daniel Kirk aponta para estudos recentes que levaram alguns a concluir que a passagem que obriga as mulheres a "ficarem caladas nas igrejas" em 1 Coríntios 14:34 foi uma adição posterior, aparentemente por um autor diferente e não era parte da carta original de Paulo à igreja de Corinto. Outros, como Giancarlo Biguzzi, alegam que a restrição de Paulo sobre as mulheres em Coríntios é genuína, mas aplica-se ao caso particular de proibi-las de fazerem perguntas ou de conversar, e não uma proibição generalizada contra as mulheres falarem, pois em 1 Coríntios 11:5 Paulo afirma o direito das mulheres de profetizar.[75]

O terceiro exemplo de Kirk de uma visão mais inclusiva está em «Não pode haver judeu nem grego, não pode haver escravo nem livre, não pode haver homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus» (Gálatas 3:28). Ao anunciar um fim dentro da igreja das divisões que eram tão comuns no mundo todo, ele conclui destacando que "[…] havia mulheres do Novo Testamento que ensinaram e tinham autoridade na igreja antiga e que estes ensinamentos e esta autoridade eram sancionadas por Paulo e que o apóstolo mesmo oferece um paradigma teológico dentro do qual a superação da subjugação da mulher é um resultado esperado".[76]

Influência no cristianismo

Ver artigo principal: Paulinismo

A influência de Paulo no pensamento cristão é possivelmente o mais importante dentre todos os outros autores do Novo Testamento. Paulo declarou que sua fé em Cristo tornou a Torá desnecessária para a salvação, exaltou a igreja cristã como sendo o corpo de Cristo e mostrou o mundo fora da igreja como estando sob julgamento.[6]

Tradição oriental

No oriente, os padres da Igreja reduziram a eleição divina presente Romanos 9:11 à onisciência de Deus e o tema da predestinação presente na teologia ocidental não aparece no oriente.[6]

Tradição ocidental

As obras fundamentais de Agostinho sobre a "boa nova" como um presente (graça), sobre a moralidade como a vida no Espírito, sobre a predestinação e sobre o pecado original se baseiam todas em Paulo, especialmente na Epístola aos Romanos.[6]

Durante a Reforma ProtestanteMartinho Lutero expressou a doutrina de Paulo sobre a fé como elemento mais importante como justificação para a sua doutrina da sola fide (apenas a fé).[6]

ficação para a sua doutrina da sola fide (apenas a fé).[6]

JESUS TE AMA

OLÁ SEJAM TODOS BEM -VINDO VOCÊ É MUITO ESPECIAL JESUS TE AMA