Propósitos do sofrimento
Muitos entendem que pelo fato de Cristo ter sofrido na cruz e ter me tornado mais que vencedor, estou imune ao sofrimento.
“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”. Romanos 8:28
INTRODUÇÃO
Falando sobre o sofrimento, C.S. Lewis, o famoso autor das “Crônicas de Nárnia”, certa vez disse o seguinte:
“Deus sussurra em nossos ouvidos por meio de nosso prazer, fala-nos mediante nossa consciência, mas clama em alta voz por intermédio de nossa dor; este é seu megafone para despertar o homem surdo”.
Isso é uma grande verdade, o sofrimento é uma das formas que o Senhor Deus usa para cumprir seus propósitos em nossas vidas. Porém, não é difícil de comprovar que existe muita dúvida e confusão acerca do sofrimento no meio cristão.
Poderíamos até dizer, que o sofrimento é o “calcanhar de Aquiles” na teologia de muitos seguidores de Cristo, de forma que existe uma certa dificuldade de compatibilizar o “sofrer” com a vida cristã.
Nesse sentido, muitos entendem que pelo fato de Cristo ter sofrido na cruz e ter me tornado mais que vencedor, estou imune ao sofrimento, de forma que quando ele aparece, é por falta de fé, por causa de algum pecado ou por uma ação maligna.
Outros, até entendem que devido à queda, o sofrimento é normal em nossas vidas, mas não conseguem perceber algum propósito nele.
E um fato incontestável, é que a Palavra de Deus, fala muito sobre o sofrimento humano, e não só fala muito, mas também, fala dos propósitos que ele tem em nossas vidas. O nosso texto base afirma exatamente isso; “...todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus...”.
E todas as coisas, significa todas, ou seja, inclusive o sofrimento. E baseado nisso, eu separei 3 propósitos para o sofrimento que nós encontramos na Palavra de Deus.
1 – NOS DISCIPLINAR
O 1º propósito do sofrimento que eu separei para a nossa reflexão, é o de nos disciplinar. A carta aos Hebreus, no capítulo 12:6-11, vai falar sobre isso, dizendo o seguinte:
“...pois o Senhor disciplina a quem ama, e castiga todo aquele a quem aceita como filho". Suportem as dificuldades, recebendo-as como disciplina; Deus os trata como filhos. Pois, qual o filho que não é disciplinado por seu pai? Se vocês não são disciplinados, e a disciplina é para todos os filhos, então vocês não são filhos legítimos, mas sim ilegítimos. Além disso, tínhamos pais humanos que nos disciplinavam, e nós os respeitávamos. Quanto mais devemos submeter-nos ao Pai dos espíritos, para assim vivermos! Nossos pais nos disciplinavam por curto período, segundo lhes parecia melhor; mas Deus nos disciplina para o nosso bem, para que participemos da sua santidade. Nenhuma disciplina parece ser motivo de alegria no momento, mas sim de tristeza. Mais tarde, porém, produz fruto de justiça e paz para aqueles que por ela foram exercitados”.
Não é uma regra, mas uma das razões de nós passarmos por momentos de sofrimento, é a disciplina. Ou seja, Deus muitas vezes permite o nosso sofrimento com o intuito de nos corrigir.
E por mais que o sofrimento e a disciplina não nos pareçam motivos de alegria, é assim que devemos procurar olhar para ele, pois assim como diz o texto, mais tarde eles produzirão o fruto de justiça e paz!
E note que o texto aponta para algumas verdades sobre a disciplina que não podemos deixar de considerar:
1. A disciplina é para os filhos amados por Deus – “...o Senhor disciplina a quem ama, e castiga todo aquele a quem aceita como filho...”
2. Devemos suportá-la - “...Suportem as dificuldades, recebendo-as como disciplina; Deus os trata como filhos...”
3. É a prova que somos filhos legítimos – “...Se vocês não são disciplinados, e a disciplina é para todos os filhos, então vocês não são filhos legítimos, mas sim ilegítimos...”
4. É para nossa santidade - “...Nossos pais nos disciplinavam por curto período, segundo lhes parecia melhor; mas Deus nos disciplina para o nosso bem, para que participemos da sua santidade...”
Sendo assim, ao passarmos pelo sofrimento é necessário em 1º lugar, fazermos uma autoanalise e questionar: será que estou sendo disciplinado? (e nós sabemos bem quando estamos).
E se estivermos, assim como o texto diz, devemos suportar as dificuldades e receber a disciplina entendendo que nós somos filhos de Deus e que Ele corrige os filhos que ama. Devemos ter entendimento e discernimento. E assim como o salmista diz no Salmo 23:4:
“Mesmo quando eu andar por um vale de trevas e morte, não temerei perigo algum, pois tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me protegem”. Salmos
2 - NOS TORNAR FORTE
Outro propósito do sofrimento em nossas vidas, é nos tornar fortes. Uma das características do sofrimento, é que ele nos deixa fracos. O apóstolo Paulo sentiu isso literalmente na carne, conforme nós podemos conferir no capítulo 12 de 2 Coríntios. E o interessante é que ao invés de ficar prostrado e focado em sua fraqueza (que é uma atitude muito comum de quem está sofrendo), ele nos ensina qual deve ser a nossa postura:
“Três vezes roguei ao Senhor que o tirasse de mim. Mas ele me disse: "Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza". Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim. Por isso, por amor de Cristo, regozijo-me nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias. Pois, quando sou fraco é que sou forte”.
2 Coríntios 12:8-10
Paulo descreve que por 3 vezes orou ao Senhor para que ele tirasse o espinho de sua carne (mensageiro de satanás). E a resposta que ele obteve do Senhor foi: “...Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza...”. É por isso que ele finaliza dizendo: “...quando sou fraco é que sou forte”, pois é em nossa fraqueza que o poder de Deus se manifesta.
E um detalhe interessante e importante, a palavra “poder” no original, é Dunamis, que é a mesma palavra usada por Lucas em Atos 1:8, quando ele descreve o que Jesus disse aos discípulos: “Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês...”, ou seja, esse poder que se aperfeiçoa na nossa fraqueza, é o poder do Espírito Santo de Deus. (Obs.: Dunamis é de onde vem a palavra dinamite no português).
Por isso, assim como disse o apóstolo Paulo, devemos então nos regozijar nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias, pois, quando somos fracos, é que somos fortes.
E para finalizarmos esse 2º ponto, eu gostaria de deixar algumas perguntas: você tem feito isso? Tem olhado para o seu sofrimento dessa forma? Tem se regozijado em suas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias, tem sofrido com a consciência de que é em sua fraqueza que Deus te torna forte? Talvez seja isso que falta para o poder de Deus se manifestar em sua vida.
3 – NOS LEVAR A CONFIAR EM DEUS
E o último propósito do sofrimento que eu separei para a nossa reflexão, é de nos levar a confiar em Deus. O pastor John Piper, que gosta muito de falar e escrever acerca do sofrimento, certa vez disse que “o sofrimento é um chamado para confiar em Deus e não nos suportes que sustentam a vida do mundo”.
E isso é uma grande verdade, um dos propósitos do sofrimento é nos levar a confiar em Deus. E Paulo, confirma isso de forma muito clara em 2 Coríntios 1:8-10, quando diz o seguinte:
“Irmãos, não queremos que vocês desconheçam as tribulações que sofremos na província da Ásia, as quais foram muito além da nossa capacidade de suportar, a ponto de perdermos a esperança da própria vida. De fato, já tínhamos sobre nós a sentença de morte, para que não confiássemos em nós mesmos, mas em Deus, que ressuscita os mortos. Ele nos livrou e continuará nos livrando de tal perigo de morte. Nele temos colocado a nossa esperança de que continuará a livrar-nos...”
Os sofrimentos experimentados pelo apóstolo na província da Ásia foram tão grandes, que levaram ele a perder a esperança da própria vida.
Mas Paulo entendeu que Deus não só livrou ele daquela situação, como continuaria livrando em situações futuras e que principalmente, permitiu que ele passasse por aquela situação com o propósito de que ele não confiasse nele mesmo, mas em Deus, que ressuscita os mortos.
Isso é muito interessante, Paulo faz questão de frisar que o Deus que ele cria, era aquele que ressuscita os mortos e por isso ele não tinha o que temer. E ele finaliza de forma magnífica declarando que n’Ele, em Deus, colocava sua esperança.
Um dos grandes erros de nossa geração, é que cada vez mais colocamos a nossa esperança e nossa confiança em coisas efêmeras, em coisas passageiras, nas coisas desse mundo.
E uma das coisas que a pandemia nos mostrou, é que nós não temos o controle de nada. Deus, através dela, deu uma “rasteira” naquilo que nós podemos chamar de “o tripé da confiança humana”; (1) a política, (2) a economia e (3) a ciência. Nenhum dos 3 conseguiu resolver o problema o problema de prontidão como muitos apostavam.
E por conta disso, muitos tem sofrido. E sim, sem nenhum receio eu afirmo que Deus usou esses últimos dois anos, para mostrar que nós devemos depositar nossa esperança n’Ele.
Ele tem usado esses últimos dias, e tudo o que temos passado, tudo o que temos sofrido para nos ensinar a confiar n’Ele e não em nós mesmos.
CONCLUSÃO
Como disse João, quem tem ouvidos para ouvir, ouça. É tempo de reflexão. É tempo de arrependimento. É tempo de olhar para dentro e pedir discernimento a Deus, para que possamos passar pelo sofrimento da maneira que agrada a Ele.
E como nós podemos passar pelo sofrimento de uma maneira que agrade a Ele? Tendo consciência de que o sofrimento que nós passamos tem seus propósitos.
Só assim, todas as coisas irão cooperar para o nosso bem. Caso contrário não aproveitaremos do sofrimento em nosso favor. A pergunta certa então, não é porque, mas para quê.
Será que Deus quer me disciplinar? Será que Ele quer me tornar mais forte? Será que Ele quer me levar a confiar mais n’Ele? Qual é o seu propósito com esse sofrimento que estou passando? Perguntas como essas devem ser feitas.
Além disso, temos que crer que Deus governa todas as coisas o tempo todo, de tal modo que mesmo que estejamos sofrendo hoje, Ele está trabalhando em prol do nosso bem final.
Ricardo Soares é pastor, professor de teologia, filosofia e autor de "Introdução à Filosofia Cristã: o encontro da fé com a razão". É casado com Sarah e pai de duas filhas: Pâmela e Polyana. Para saber mais, acesse contrapontoteologico.com.br
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Leia o artigo anterior: Resoluções para a vida – Deuteronômio 4:9
Fonte: Guiame Gospel
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