Como o autista vê o mundo
O autista vê o mundo de forma diferente, e nós podemos
crescer no entendimento de como isso acontece para contribuir com o
desenvolvimento deles.
Você sabe o que é autismo? Há
alguém no seu dia a dia que tenha o Transtorno do Espectro Autista
(TEA)? O dia 2 de abril foi escolhido pela Organização das Nações Unidas
(ONU) como o Dia Mundial de Conscientização do Autismo para ressaltar
os cuidados e o respeito a quem vive com esse transtorno. O autista vê o
mundo de forma diferente, e nós podemos crescer no entendimento de como
isso acontece para contribuir com o desenvolvimento deles.
Sobre esse assunto, entrevistamos Michele Senra, que é fundadora e
musicoterapeuta do Centro de Otimização para a Reabilitação do Autista
(CORA) e mãe do Breno Willians, de 19 anos, que é autista. O CORA é um
dos projetos apoiados pela Avec.
- Quais atitudes você observa que mais demonstram a forma que o autista vê o mundo?
Existem algumas limitações sensoriais e cognitivas que alteram a forma
que eles percebem e reagem a situações sociais. A criança pode, por
exemplo, ter sensibilidade muito grande e apresentar dificuldade de
estar em ambiente ruidoso, então a parte social fica comprometida. Esse
tipo de comportamento não faz mal para eles, mas a sociedade vê como
estranho, então eles podem ter a percepção de que as pessoas não gostam
deles. Isso pode causar depressão e uma série de outros fatores.
- Como devemos agir: Tentar entrar no mundo deles ou ajudá-los a enxergar de nosso modo?
Devemos ter empatia. Eles têm uma forma diferente de aprender as coisas.
Por exemplo, uma criança pequena sem transtorno aprende sobre regras
quando é ensinada ou quando observa o grupo social e cultural que
convive. A grande questão de pessoas com autismo é justamente a
dificuldade nessa área. É preciso criar estratégias para ensinar novas
habilidades básicas. Quanto mais conhecemos sobre a criança e o que a
motiva, podemos usar disso como um meio de ensino. Se, por exemplo, ela
gosta muito de um desenho, este pode ser uma porta de entrada para
construir aprendizados em cima dos interesses dela.
- Quais as situações que os deixam desconfortáveis?
Isso vai depender do perfil sensorial da criança. A gente não pode
rotular dizendo que todo autista não gosta de contato físico. Tem
crianças que têm uma sensibilidade ao toque muito grande e, por isso, um
abraço é realmente muito doloroso. Por outro lado, há crianças que
buscam essas sensações porque têm necessidade de sentir, tocar, cheirar.
Não dá para falar do autismo como algo genérico. É um transtorno, é
amplo, com níveis de dificuldade diferentes. A gente tem que ter um
olhar muito individualizado.
- Como é o seu relacionamento com seu filho?
Acho que é um relacionamento de muita afetividade e gratidão, porque o
Breno me ensinou e me ensina muita coisa. Ele é uma grande lição para
mim, tudo começou por ele. É por ele que hoje eu tenho uma profissão,
que sou reconhecida como musicoterapeuta. Como mãe, eu procuro ajudar
meu filho dentro do meu conhecimento, mas isso não quer dizer que eu
saiba o suficiente para fazer o melhor por ele. Significa que eu sei um
pouquinho, mas eu sou mãe.
O meu filho também precisa ter terapeuta, e eu preciso ter o retorno
deles para que eu possa atuar com o meu filho. A gente tem buscado
formas de fazer com que ele fique cada vez mais autônomo, mas é um
desafio. É preciso não interromper terapias. Muitos pais desistem quando
o filho chega à idade adulta. Não existe alta de terapia no autismo.
Existem readaptações de programas terapêuticos voltados para a idade da
pessoa, mas a intervenção tem que existir. Nesse aspecto, eu não desisto
do meu filho. A gente não pode desistir, tem que acreditar sempre.
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